terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Às horas a que escrevo este post, Navegar é preciso, de Fernando Pessoa, é para mim o mais belo poema...

Navegar é Preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa

Sabedoria...

"A realidade é chata, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife."

Woddy Allen

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Boas leituras...


O Professor McMuu, um boi genial, e os seus companheiros, Pat e Bo, são agentes especiais da FBI - Força Bovina de Intervenção! Viajam pelo tempo, lutando contra os malvados touros do futuro e mantendo a história no caminho certo… Quando o Professor McMuu inventa uma MÁQUINA DO TEMPO genial, ele e os seus amigos são rapidamente atacados por um terrível EXTER-MUU-NADOR - um mortífero touro-robô que quer interferir com o passado e alterar o futuro!

Tirado do Professor José Cid. Um brilhante blogue que é de rir do princípio ao fim...

sábado, 4 de dezembro de 2010

Os jovens e a política...

A política está cada vez mais afastada das pessoas e as pessoas cada vez mais afastadas da política. É difícil dizer quem se afastou primeiro mas também não me parece ser essa a pergunta relevante. A verdade é que analisar bem esse afastamento leva-nos a conclusões nas quais talvez nunca tenhamos pensado.

Por agora deixo apenas este artigo do sociólogo Elísio Estanque sobre o distanciamento dos jovens em relação à política. Vale a pena ler...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um documentário a ver!

Memoria del Saqueo, em português, "Memórias do Saque", é um documentário argentino de 2003, de Fernando Solanas.
Este documentário trata a trajectória da Argentina dos anos que antecederam o colapso económico e a revolta popular de 2001. Um filme premiado com o Urso de Ouro em Berlim e Melhor documentário em Havana.
No youtube está didvido em 8 partes, e podem encontrá-las num pesquisa rápida.
Aqui fica a primeira parte.
Vale a pena ver até ao fim.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.

Bertolt Brecht

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

3 colégios podem fechar portas em Fátima! Será? #2














Ainda não se sabe qual será o desfecho desta situação.
Alunos, pais, professores e autarcas pressionam o governo para arranjar uma solução, mas não há certezas.

As três escolas [Colégio Sagrado Coração de Maria, Centro de Estudos de Fátima e Colégio de São Miguel], são escolas privadas cooperativas e não existe dinheiro para as financiar. O que pode acontecer, é que as três se tornem escolas privadas.

Quando é que se dará o encerramento destas escolas?
Já no final deste período, assim que o governo aprovar o novo orçamento de Estado. É verdade que quanto ao novo orçamento de estado, já existe um acordo entre o governo e o PSD, mas a aprovação cabe ao Presidente da República.

Está marcada uma manifestação em Fátima, para o próximo dia 2 de Dezembro...

Alguns links:

Colégio de São Miguel:

Associação de Professores do Ensino Particular e Cooperativo com Contrato de Associação:
http://apepcca.wordpress.com/2010/11/19/cortes-do-me-nas-escolas-com-contrato-de-associacao/

Manifestação com os 3 colégios de Fátima:

http://www.facebook.com/#!/event.php?eid=169684369719476

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afuguentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faz espada de combate!

Antero de Quental

terça-feira, 16 de novembro de 2010

"Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura.
Sem essas duas virtudes,
a vida será de violência e tudo será perdido. "

Charles Chaplin

"Fui dominado pela emoção e pela tragédia"

«"O perigo de ter uma câmara entre nós e o assunto é que ela pode virar um escudo. Às vezes é necessário. Especialmente na situação que vivi, pois o que fotografei é terrível e deprimente", conta Bob Caputo. "Em várias situações, chegava o momento em que eu não conseguia continuar. Tive de baixar a câmara. Fui dominado pela emoção e pela tragédia. Achava que se fosse capaz de continuar a fazer o meu trabalho, a tirar fotos quando me sentia daquela forma, deixaria de ser humano."

O limite relatado pelo fotógrafo da National Geographic, ocorre em diferentes escalas e, às vezes, nem é notado. Um jornalista espanhol conta que no seu trabalho como secretário de redação de um diário de Madrid se deparou com a seguinte situação: minutos antes da edição fechar, chegou a fotografia de um atentado terrorista. Entre os mortos, estava uma mulher grávida e seu feto, expelido dela pela explosão da bomba. A foto escolhida para a primeira página mostrava os dois cadáveres, mas não cabia no espaço reservado na página de forma a exibir mãe e filho.

Diante do problema - agravado pela urgência do fechar da edição -, o jornalista desejou que o corpo do feto estivesse mais próximo da mãe, para poder mostrar a imagem sem cortes no dia seguinte. Não havia outra foto: era preciso que os cadáveres estivessem a menos alguns centímetros de distância. Não é uma história sobre a qual o secretário de redação se orgulhe. »
Por Mariana Caetano

"O Planeta está a ficar sem água potável... "

A organização World Wide Fund for Nature (WWF) revelou que, ao ritmo a que estão a ser consumidos os recursos terrestres, o homem vai precisar de dois planetas Terra até 2030.

O último relatório do estudo "Living Planet" analisou dados de 71 países e alerta ainda para a velocidade a que o planeta está a ficar sem água potável: perto de dois terços dos países estão numa situação "de moderada a grave", no que respeita a falta de água. Na lista dos países com maior pegada ecológica,, Portugal está em 39º lugar.

Em média (e em resumo), todos nós andamos a gastar recursos terrestres equivalentes a um planeta e meio. Isto é como quem diz que "a procura humana de recursos naturais está a atingir níveis nunca vistos, que rondam os 50% acima do que a Terra pode oferecer", dizem os investigadores citados pelo jornal i.

"Mesmo com as projecções modestas da ONU sobre o crescimento populacional, consumo e alterações climáticas, em 2030 a humanidade vai precisar da capacidade de duas Terras para absorver os resíduos de CO2 e manter o ritmo actual de consumo de recursos", referem.

Foto: hangover80.wordpress.com

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

"Manifestação com cinco estudantes escoltada por dez polícias "

Ninguém vinha atrás. Apenas um carro da PSP com quatro agentes. À frente da “manifestação”, outra viatura e uma motorizada com mais elementos desta força policial. O cenário apresentava contornos insólitos.

O protesto dos estudantes do secundário de Beja juntou apenas cinco jovens, que outros colegas (decorria um intervalo nas aulas) olhavam no passeio, alguns em silêncio, outros rindo e perguntando o que é que se estava a passar, alegando desconhecer que era dia da manifestação nacional dos estudantes do ensino secundário.

Os automobilistas é que não acharam piada nenhuma. E os próprios agentes da PSP não conseguiram disfarçar o constrangimento que a situação provocou. O trânsito ficou caótico durante o tempo em que os cinco jovens percorreram cerca de duzentos metros, distância que medeia entre as duas escolas secundárias D.Manuel I e Diogo de Gouveia.

Cinco estudantes do ensino secundário, provocaram o caos no trânsito e ainda foram escoltados por dez polícias, distribuídos por dois carros da PSP e uma motorizada...

Em 1973, Zeca Afonso pedia mais cinco. Hoje cinco estudantes mostraram que já valiam a pena...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Poder da Música!

O maior centro comercial da Nova Zelândia, City Mall de Christchurch, decidiu emitir exclusivamente nos seus altifalantes, música clássica.

Resultado?
Os comportamentos anti-sociais diminuíram acentuadamente.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

De Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anónimo e frio,
A vida vivida em vão.

A ‘sp’rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha ‘s’prança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam — verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças —
Mortas, porque hão de morrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim —
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser — muro
Do meu deserto jardim.

Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Praxes: socializaçao ou perversão?

"Perante esta tendência inquietante, e que parece agravar-se de ano para ano, o desafio neste domínio terá de passar por uma “refundação” dos princípios da praxe, incutindo-lhes um novo sentido pedagógico, conteúdos informativos e comportamentos amigáveis e acolhedores para os recém chegados. É preciso adaptar a “tradição” às condições do presente. Os actuais rituais da praxe estudantil não são apenas a fachada da vincada hierarquia inscrita no próprio “código genético” da Universidade. Eles reflectem – pelo menos nas suas modalidades mais extremas – uma perversão de valores que perdeu autenticidade, perdeu conteúdo e perdeu sentido. A praxe corre o risco de resvalar para perigosos comportamentos anti-sociais (e obrigar à acção repressiva), caso a colectividade, a começar pelo corpo estudantil, as estruturas associativas, os grupos organizados e as instituições universitárias não saibam travar a tempo as formas “rascas” de que a mesma se vem revestindo nos últimos tempos."

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Questionamentos acerca de supostas contradições

Li há algum tempo na blogosfera uma discussão que podia ser um autêntico case study da sociologia e da teoria política. (Infelizmente, não me lembro onde, mas sei o fundamental da questão).

O contexto era uma defesa dos direitos dos homossexuais que era feita, como é de esperar, por alguém de esquerda. O argumento é rápido mas nem por isso é simples: a igualdade como "valor" - talvez o principal a ter em conta por uma sociedade.

Ora, é exactamente este mesmo argumento que faz a esquerda defender também os direitos dos imigrantes, por exemplo, os imigrantes do muçulmanos ou os ciganos que estão actualmente a ser questionados em alguns países europeus.

Neste contexto, alguém levantava uma questão parecendo ter descoberto a grande raiz do mal da esquerda numa suposta contradição: lembrava esta pessoa que num qualquer país da Europa (Holanda ou Bélgica, não tenho a certeza) era perigoso assumir a homossexualidade publicamente porque os imigrantes islâmicos os perseguiam e até matavam por fanatismo religioso.

Como conciliar então a defesa dos direitos dos homossexuais e dos muçulmanos com a preservação da sua cultura se estes dois direitos chocam tão directamente um com o outro?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Sorriso de Deus...




Albino Luciani, Papa João Paulo I
N: 17/10/1912
F: 28/09/1978

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre este extraordinário (e tantas vezes esquecido) Papa, aqui fica o link para a página na Wikipédia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O polémico genérico dos Simpsons...

Visão: O que acontece quando se convida um polémico graffiter para assinar um genérico? Prepara-se para a polémica, claro está. Banksy aproveitou a oportunidade de criar uma abertura para os Simpsons para denunciar as condições em que é feito o material de merchandising da série.

Público: A sequência de abertura idealizada por Banksy termina com um trecho de um minuto de duração que mostra trabalhadores asiáticos a colorir manualmente, num regime de quase escravatura, as vinhetas de animação da série [...]. A cena passa-se numa fábrica onde são feitos os produtos de merchandising da série. Vêem-se crianças a trabalhar, ossadas amontoadas de antigos trabalhadores, animais a serem mortos para encherem Barts de peluche e um unicórnio cansado cujo chifre serve para furar DVD’s.

Esta extensa sequência foi aparentemente inspirada na teoria que os produtores dos Simpsons recorrem a empresas sul-coreanas para animarem, em regime de outsourcing, a família amarela mais famosa do mundo.

De acordo com Banksy, citado pela BBC, o argumento para a sequência de abertura deu origem a atrasos e discussões acerca das normas de difusão televisiva, chegando mesmo a haver uma ameaça de demissão por parte do departamento de animação. “É isto que acontece quando trabalhamos com recurso a outsourcing”, ironizou um dos produtores-executivos dos Simpsons, Al Jean.




Este episódio (chamado MoneyBart) foi emitido no passado Domingo, dia 10, nos EUA e foi a primeira vez que um artista foi convidado para criar a sequência de abertura.

Alguns dos coméntários da caixa do PÚBLICO:

  • Para mim parecia uma fábrica na China
  • Foi este tipo de comédia que tornou os Simpsons grandes. Contudo, mais recentemente as piadas têm-se tornado cada vez mais imediatas e menos inteligentes. Assim, saúdo esta iniciativa da série ao convidar um artista satirico para criar a sequência de abertura e voltar a abalar os espíritos do mundo.Espero tê-los na minha televisão, pelo menos, durante mais vinte anos. J. Pifre.
  • Este genérico dos "Simpsons" é escandaloso/polémico, mas a realidade satirizada/retratada não o é?

  • É fabuloso o sentido de humor desta malta e a capacidade de se reinventarem para continuar a impressionar após tantos anos de emissão.Uma das melhores séries de humor de sempre.
  • Bansky não é apenas um artista satírico e humorista. O humor e a sátira são apenas algumas das ferramentas que Bansky utiliza para denunciar os podres das nossas sociedades. Não se percebe porque é que jornalista não faz referencia a isso, ah, espera... se calhar não interessa....
  • Como a realidade dói......
  • Profundo.

"Mas nós somos uma revista com sorisos :-)

Excerto do editorial da revista AULA MAGNA.
Edição 07
PDF da revista aqui.

Todos os editoriais do início do ano lectivo falam do início do ano lectivo. É uma pena, mas nós vamos falar mesmo é do Quim Barreiros. Para quem conhece mal a nossa revista, pode parecer estranho, assim como se aparecesse um smiley no nosso editorial. :-) Mas nós somos uma revista com sorrisos. Só não somos nem queremos ser um jornal de traques engraçados e de palermices do dia-a-dia, daqueles que acham que os leitores são todos atrasados mentais e que é preciso escrever para esse nível. Na Aula Magna achamos que os nossos leitores não são atrasados mentais. Talvez seja esse o segredo do sucesso que temos tido entre os estudantes.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Centenário da República

O centenário da República é uma data a celebrar. Não tanto pelo simbolismo que estes cem anos representam, mas sim por cem anos de história, de personalidades que insurgiram e que deram o seu contributo para um avanço técnico e científico de Portugal. O regime hoje em vigor, foi uma conquista de Homens com sonhos e ideais que há cem anos se impuseram à monarquia e implantaram a República.

Em 1890, Portugal vivia uma crise generalizada, grande parte da população portuguesa activa era analfabeta e os trabalhadores qualificados eram uma minoria, o que se espelhava nas produções de baixa escala e em pequenos índices de produtividade por trabalhador. Em comparação a outros países europeus, Portugal estava aquém do que por essa Europa se criava e desenvolvia.

A questão do mapa cor-de-rosa, também em 1890, levou o povo a desacreditar o regime monárquico e em 1891, a revolta republicana no Porto comprovou e acentuou o descontentamento e desilusão da população face à monarquia. É neste contexto que as ideias republicanas ganham um maior contorno do que já tinham e conseguem apoiantes de um povo que vê a burguesia a engrandecer-se e uma família real que vive com todos os luxos. Esta agitação culmina a 5 de Outubro de 1910 com a implantação da república.

Com a 1ª República são implementadas reformas na educação e no sector do trabalho. Os republicanos sempre defenderam a importância da instrução para o desenvolvimento de um país em que mais de metade da população vivia da produção agrícola. Em relação ao sector laboral, os republicanos tentaram responder ás reivindicações dos trabalhadores a fim de diminuir as injustiças sociais e melhorar as condições de trabalho.

No entanto, as reformas tomadas não surtiram o efeito esperado…Em 16 anos, Portugal teve 8 Presidentes da República e 45 governos. Tal situação contribuiu para que se gerasse um clima de instabilidade social e de descontentamento na população. Adivinhava-se assim, o fim da Primeira República. A revolta de 28 de Maio de 1926 marcou o início da ditadura militar do Estado Novo. Iniciava-se assim, um novo período da história de Portugal e dos portugueses em que uma vez mais Homens se insurgiram para pôr fim a um regime repressivo e ditatorial a 25 de Abril de 1974.

Viva a República...

Louvor do Revolucionário

Quando a opressão aumenta
Muitos se desencorajam
Mas a coragem dele cresce.
Ele organiza a luta
Pelo tostão do salário, pela água do chá
E pelo poder no Estado.
Pergunta à propriedade:
Donde vens tu?
Pergunta às opiniões:
A quem aproveitais?

Onde quer que todos calem
Ali falará ele
E onde reina a opressão e se fala do Destino
Ele nomeará os nomes.

Onde se senta à mesa
Senta-se a insatisfação à mesa
A comida estraga-se
E reconhece-se que o quarto é acanhado.

Pra onde quer que o expulsem, para lá
Vai a revolta, e donde é escorraçado
Fica ainda lá o desassossego.

Bertold Brecht In 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e ter por fim da caminhada um objectivo agradável: eis, de todas as maneiras de viver, aquela que mais me agrada.

Rousseau

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Não há controlo no fornecimento de álcool a adolescentes

“Temos leis que não permitem que os menores de 16 anos comprem bebidas alcoólicas mas, nas discotecas e bares, esta medida não é implementada e não há controlo”, exemplificou Matej Kosir, que coordena o projecto Club Health - Healthy and Safer Nightlife of Youth, que conta com 20 associados, entre os quais 15 Estados-membros da União Europeia e a Noruega.

Matej Kosir foi um dos oradores da II Escola de Verão em Educação pelos Pares (PEER 2010), que decorre até amanhã em Coimbra, organizada pela Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEnfC) e pelo IREFREA Portugal (Instituto Europeu para o Estudo dos Fatores de Risco e Factores de Protecção em Crianças e Adolescentes).

“Os profissionais [de bares e discotecas] sabem que são menores, mas não estão conscientes dos problemas que o consumo de álcool pode causar”, disse ainda o responsável, em declarações à agência Lusa à margem do evento.

Na sua intervenção, este especialista em políticas de saúde pública afirmou que “não há informação de qualidade para as pessoas que fazem as políticas” e estas, geralmente, não produzem efeitos práticos, e aludiu a “uma tendência crescente para beber para ficar embriagado” e a que, cada vez mais, os jovens saírem com o intuito de se embebedar.

Por outro lado, destacou a importância da formação e sensibilização dos profissionais que trabalham nos espaços de diversão nocturna.

“Estes profissionais não estão conscientes da multiplicidade de problemas que podem surgir. É uma das formas mais eficazes para diminuir os problemas na vida nocturna”, salientou.

Segundo o coordenador do Club Health, neste contexto da diversão nocturna, “a dimensão dos problemas [dos jovens] com drogas ilícitas não é tão grande como com o álcool”, contudo existem “muitas mais intervenções” destinadas àquelas substâncias do que ao álcool.

“A vida nocturna é diversão para os jovens e não a queremos reduzir, mas há muitos problemas relacionados, em termos de saúde, violência, sexo não protegido e não consensual, acidentes rodoviários... Pelo que queremos torná-la mais saudável e mais segura”, afirmou, ao frisar também a importância da cooperação entre os atores locais e de intervenções multidisciplinares."

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Poema da revolta

O que pode o humano coração frente aos farelos de pão
em que a criança busca esperança?
O que pode,
pergunto, sozinho no pesadelo real,
o que pode o humano coração
frente à avalanche de cacos de vidro,
de mísseis,
de inocências povoadas pela barbárie,
quando o ódio é uma receita
servida no quotidiano e com a nossa permissão?

Onde vamos assim,
zumbis sem causa,
por essa rua alienada de si mesmo,
que passa esquecendo o que nunca soube ver?
Onde vamos na calada da noite,
onde os amigos estão sepultados por mãos de metal,
lógica borrada pela lógica pífia
das notas de dólares
e as mil transações mundiais que esquecem o mundo (...)

Meus olhos são pequenos demais pra se dar conta de tanta dor.
Muito pequenos!
Sou tão pequeno,
tão pequeno,
que estas letras têm ar de inutilidade,
descaso,
até ofensa,
ofensa pequeno-burguesa
de estar a falar de um sofrimento que jamais saberei do que se trata.
Ou saberia?
Terrível angústia
de um homem sem destino
diante do destino inexorável.

Dispo-me de qualquer carga fraternal.
Não é solidarismos que ofereço.
Ofereço meu desespero e o ódio.
Ódio de nós mesmos,
que mal percebemos o bicho-homem que se mistura com os dejetos.
Ódio da pátria amada,
amores de carvão
que queimam alguma coisa dentro de cada um.

(...)
Poesia incendiária,
vem falar da etiqueta na tua calça:
"e tu chamas isso de evolução".

Volmir M. G

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A História das Coisas

"Todos os projectos são desenhados de modo a não mexer no resto da sociedade. Essa é uma limitação decisiva. Se não há mudança social, não pode haver erradicação da pobreza. Se os programas não tocam no resto da sociedade, tentam resolver a pobreza dentro do universo da pobreza, mas não estão a resolver as causas. "

Alfredo Bruto da Costa

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Não acredito que haja hipótese de alterar o que quer que seja durante o nosso tempo de vida. Mas podemos imaginar focos de resistência a nascer aqui e ali... pequenos grupos de pessoas que se organizam, que vão crescendo a pouco e pouco, deixando talvez até um testemunho, de forma que a próxima geração possa partir do ponto em que ficámos.

Excerto do livro 1984, de George Orwell

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Portugal sofre de "ciganofobia"

"Portugal sofre de “ciganofobia” e mais de 80 por cento da população tem comportamentos racistas contra os ciganos, defendeu o antropólogo José Pereira Bastos, para quem não há ninguém em Portugal que se interesse por estas pessoas."

Depois do que vemos passar-se em França com a expulsão de milhares de ciganos de volta para os seus países de origem, é boa altura para em Portugal pensarmos acerca do mesmo assunto.

"Ninguém se interessa por estas pessoas", mas será que "estas pessoas" merecem interesse?

Para ajudar ao debate, deixo alguns comentários da caixa de comentários do citado artigo do Público:


"Porque será? Queres vêr que o povo português não tem direito e reagir contra aquilo que o prejudica venha de onde vier."

"Tendo em conta a forma de vida predominantemente parasitária da maioria dos ciganos, claro que seria de estranhar que aqueles que são directamente prejudicados pela sua conduta aceitassem de bom grado continuar a ser roubados, agredidos na escola e ameaçados na rua e muitas vezes em casa e no local de trabalho por gente que não respeita a lei e os direitos do outros. Solicito aos senhores que estão dispostos a tolerar estes comportamentos para acolher os ciganos em sua casa e para irem morar para junto deles. Não sejam hipócritas."

"o estado DÁ: casa de borla, rendimento mínimo garantido e vai fechando os olhos às actividade 'económicas' paralelas. Em troca recebe, assaltos, violência nas escolas, parasitismo social, degradação de espaços públicos... Mas temos de aguentar com tudo porque nós já fizémos mal a muita gente! Que rica lógica... Vê-se mesmo que não faz a mínima ideia do que é um bairro social... Quem não vem pa trabalhar, não faz cá falta! Malandros já nós temos com fartura, não precisamos de importar...."

"Parece que No meu bairro há um cigano que é tão ladrão, tão falso e tão fingido que até já lhe chamamos o Português!" (sem duvida o melhor comentário de todos...ahahah)

"Em lugar de estudar as razões porque os portugueses não gostam dos ciganos, esse senhor pseudo investigador científico vem chamar-nos de racistas. As pessoas não gostam de ciganos simplesmente porque a esmagadora maioria das pessoas desta etnia não respeitam as regras da nossa sociedade, agridem-nos, roubam-nos e violentam-nos diariamente. Devemos gostar e ter respeito por aqueles que não nos respeitam e que, para além disso, vivem à nossa custa através dos subsídios generosos que recebem do Estado, das casas que o Estado lhe dá gratuitamente, tudo pago por nós que trabalhamos e respeitamos a lei ?"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Porque...


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude 
Para comprar o que não tem perdão. 
Porque os outros têm medo mas tu não. 
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não. 

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos. 
Porque os outros calculam mas tu não.


                                                            Sophia de Mello Breyner Anderson 

Trova do Vento que Passa



"Há sempre alguém que resiste. Há sempre alguém que diz não..."

França vai pôr fim à igualdade perante a lei?

José Vitor Malheiros, Público

Os "criminosos de origem estrangeira" são as maçãs podres que contaminam a sociedade dos "verdadeiros franceses"


Os sindicatos franceses convocaram para hoje em todo o país manifestações de protesto contra as reformas da Segurança Social propostas pelo presidente Nicolas Sarkozy. A subida da idade de reforma dos 60 para os 62 anos constitui a principal razão da contestação sindical, mas os desfiles de rua irão certamente focar também outras razões de protesto, como as suspeitas de financiamento ilegal da campanha presidencial de Sarkozy em 2007, as suspeitas de favorecimento fiscal da multimilionária Liliane Bettencourt e de tráfico de influências envolvendo o ministro Eric Woerth e o escândalo do tratamento policial discriminatório dado aos ciganos - dos quais cerca de mil já foram expulsos para a Roménia e Bulgária nos últimos três meses.

As expulsões de ciganos têm sido o pico do icebergue da "política de segurança" de Sarkozy, que prometeu erradicar de França os "elementos criminosos de origem estrangeira". Estes "criminosos de origem estrangeira" são, de acordo com o discurso sarkozista, as maçãs podres que contaminam um tecido social francês de gema que é ordeiro e amante da paz.

Apesar da atenção que as expulsões de ciganos têm merecido - devido, em grande parte, às imagens pungentes captadas quando do desmantelamento de acampamentos de ciganos e da sua deportação -, existe outra medida anunciada, na mesma linha, que se revela ainda mais preocupante, não apenas devido às suas intenções, mas devido à fraca contestação que a oposição lhe tem dedicado.

Trata-se da alteração (i)legal que Sarkozy preconiza, no sentido de retirar a nacionalidade francesa aos franceses naturalizados que cometam crimes graves - nomeadamente contra elementos das forças da ordem. A medida, a ser aprovada, criará duas classes de cidadãos, definindo penas diferentes pelo mesmo crime para cidadãos "franceses de gema" e para "neofranceses", reinstaurando um sistema penal de base étnica de triste memória.

É irrelevante que o Sarkozy-filho-de-emigrantes acredite ou não nas patranhas da particular inclinação para o crime dos "ciganos de origem romena e búlgara" - ao longo do Verão foi preciso afinar o tiro e especificar etnias com cuidados de bordadeira, quando se descobriu que a esmagadora maioria dos chamados "ciganos nómadas" eram afinal... franceses. O que é relevante é que a estigmatização étnica seja possível no século XXI e se traduza em votos. O que Sarkozy pretende não é evidentemente aumentar a segurança, mas apenas garantir a sua reeleição em 2012 e conta com as tiradas e medidas xenófobas para recuperar uma popularidade que atingiu níveis mínimos desde a eleição.

As redes criminosas que existam no meio dos ciganos não são mais perigosas que a actividade dos banqueiros e não é por isso que se deportam os banqueiros - mas estes, como é sabido, são ricos.

Não está aqui em causa se existem redes de crime organizado entre os ciganos e se o nomadismo pode facilitar o seu encobrimento - há provas de que elas existem e a esquerda francesa faz mal em tentar recusar o óbvio. O que está em causa é o estabelecimento da equação cigano=criminoso e estrangeiro=criminoso que o Presidente e o Governo francês têm feito tudo para afirmar, alimentando os mais baixos sentimentos de uma classe média e baixa em perda de poder de compra e risco de desemprego. (Veja-se o apoio popular às declarações racistas do banqueiro Thilo Sarrazin na Alemanha.)

Hoje as ruas das cidades de França vão certamente encher-se de slogans anti-Sarkozy e os manifestantes vão congratular-se na sua solidariedade humanista com os emigrantes. Mas dentro de casa ficará uma camada considerável de pessoas, talvez crescente, para quem Sarkozy fala, que está pronta a aceitar leis diferentes para cidadãos conforme a sua origem geográfica ou a sua cor da sua pele, e que o estarão tanto mais quanto mais a situação social se degradar. Algo que teríamos considerado impensável em 1945.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

A Desuniversidade...

"o processo de Bolonha é uma reforma ou uma contra-reforma? A reforma é a transformação da universidade que a prepare para responder criativamente aos desafios do século XXI, em cuja definição ela activamente participa. A contra-reforma é a imposição à universidade de desafios que legitimam a sua total descaracterização, sob o pretexto da reforma. A questão não tem, por agora, resposta, pois está tudo em aberto. Há, no entanto, sinais perturbadores de que as forças da contra-reforma podem vir a prevalecer."

"abandonam-se os princípios do internacionalismo universitário solidário e do respeito pela diversidade cultural e institucional em nome da eficiência do mercado universitário europeu e da competitividade; as universidades mais débeis (concentradas nos países mais débeis) são lançadas pelas agências de rating universitário no caixote do lixo do ranking, tão supostamente rigoroso quanto realmente arbitrário e subjectivo, e sofrerão as consequências do desinvestimento público acelerado; muitas universidades encerrarão e, tal como já está a acontecer a outros níveis de ensino, os estudantes e seus pais vaguearão pelos países em busca da melhor ratio qualidade/preço, tal como já fazem nos centros comerciais em que as universidades entretanto se terão transformado."

"Os estudantes serão donos da sua aprendizagem e do seu endividamento para o resto da vida, em permanente deslize da cultura estudantil para cultura do consumo estudantil, autónomos nas escolhas de que não conhecem a lógica nem os limites, personalizadamente orientados para as saídas do desemprego profissional."


Boaventura de Sousa Santos in Visão

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"Tenho dó das estrelas
Luzindo à tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim,
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão -
Qualquer coisa assim
Como um perdão?"

Fernando Pessoa

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Quando o dolce far niente se torna um tédio...

Portugal tem as férias de Verão lectivas mais longas... Os estudantes portugueses, crianças e jovens, têm o mais longo período de interrupção lectiva entre o final de um ano escolar e o início do seguinte... São por isso as férias mais ansiadas, mais do que as férias de Natal ou da Páscoa...

Por serem tão longas, muitos são os que conseguem um emprego nas férias... A maior parte passa uma semana ou duas de férias com os pais, amigos, visitam familiares... e os restantes dias são dedicados ao dolce far niente... Dorme-se até à hora de almoço, vêem-se muitas e demasiadas horas de televisão, vêem-se programas que nunca se tinham visto, passam-se horas na internet a navegar, a jogar, ou a falar com os amigos, lêem-se uns livros e umas revistas e depressa o dolce far niente se torna um tédio.

Torna-se um tédio porque muitos estudantes passam o dia em casa, sozinhos ou com os irmãos, e poucas são as vezes que estão com os amigos e colegas... São muitas horas, muitos dias, a "fazer nada"... e o "fazer nada" acaba por cansar e não dá vontade de fazer aluguma coisa, apenas "fazer nada"...

É esta então uma boa época para que institutos, organizações, autarquias e outros tomem iniciativas que ocupem estes estudantes... Se bem que, e arrisco ao dizê-lo, a melhor iniciativa que se pode oferecer a este público é apenas a disponibilização de um espaço, um local que reúna condições para que os estudantes ali se juntem... Não será preciso muito mais, a criatividade, imaginação e iniciativa fazem o resto... E este resto pode tornar-se em algo mais.

Hoje, mais do que nunca, é necessário que se criem oportunidades para que as ideias e projectos se desenvolvam... é preciso um espaço onde o pensamento possa vaguear...


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.

Martin Luther King

sábado, 28 de agosto de 2010

"Água mole em pedra dura...

Enquanto jovem, Abraham Lincoln, teve um negócio que fracassou e fechou. Depois meteu-se na política e perdeu as eleições de 1832. Voltou aos negócios e faliu novamente. A sua noiva, com quem iria casar-se em breve, faleceu em 1835; Lincoln adoeceu de doença nervosa que conseguiu vencer, para concorrer ás eleições de 1838 e voltar a sair derrotado. Voltou a concorrer e a perder nas eleições para o Congresso norte-americano de 1840, 1843 e 1848. Apesar dos sucessivos fracassos, voltou a tentar, e em 1860 foi eleito presidente dos Estados Unidos e reeleito quatro anos depois.

... Tanto bate até que fura."

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Acrescento que a justiça é, no grau máximo, a virtude completa, porque quem a possui pode aplicá-la em relação aos outros e não somente a si mesmo. O pior dos homens é o que, pela sua perversidade, prejudica simultaneamente a si próprio e aos seus semelhantes. Mas o homem mais perfeito não é o que emprega a justiça em si mesmo, mas o que a emprega a favor do outro.

Aristóteles

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Um dia, houve uma fuga no bloco 14...

No campo de concentração de Auschwitz, Maximiliano Kolbe, padre, era o preso tatuado 16.670. Aí ajudou os seus companheiros, sobretudo judeus. Um dia, houve uma fuga no bloco 14, no qual estava o Pe. Kolbe. Os nazis submeteram os companheiros dos fugitivos a todo o tipo de torturas para se descobrir os cúmplices e, no final, decidiram matar dez presos escolhidos ao acaso. Puseram-nos em forma e, quando os levavam, o Pe. Kolbe deu um passo em frente e dirigiu-se ao comadante:
- Quero tomar o lugar de um dos condenados.
Atónito, o comandante perguntou-lhe quem era e ele disse-lhe:
- Sou um sacerdote católico.
Deu-lhe esta resposta sabendo que depois dos judeus, os padres eram os mais perseguidos pelos nazis.
- Queres tomar o lugar de quem?
- O desse homem que tem mulher e filhos.
Levaram-no com os outros escolhidos para uma barraca na qual iam morrer de fome. Só o Pe. Kolbe e outros três aguentaram até ao dia 15, quando lhes deram uma injecção letal porque precisavam da barraca para outros presos.
Nos anos sessenta do séc. XX, no dia da canonização do Pe. Kolbe - Patrono dos presos - chegaram a Roma, vindos da Polónia, Francisco Gajowniczek e toda a sua família. Era o homem que o Pe. Kolbe tinha substituído.



Obra de Felix Nussbaum (1904-1944). Nussbaum morreu com a mulher em Auschwitz, em 1944, a poucos meses da libertação do campo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Caminhante, tuas pegadas são apenas o caminho; caminhante, não há caminho, faz-se caminho, caminhando.
Caminhando se faz caminho; olhando para trás, vê-se a senda que nunca mais se voltará a pisar.
Caminhante, não há caminho, mas rastos de espuma no mar.

António Machado


sábado, 21 de agosto de 2010

"No entanto, era precisamente assim que tinha de ser. Qualquer pessoa, para desenvolver uma actividade, seja de que género for, precisa de considerar a sua actividade como importante e boa. Por isso, qualquer que seja a situação de uma pessoa, ela formará, obrigatoriamente, um ponto de vista sobre a vida humana em geral que a levará a considerar a sua actividade importante e boa.

Pensa-se normalmente que o ladrão, o assassino, o espião, a prostituta, reconhecendo a sua profissão como má, têm vergonha dela. Na realidade, acontece precisamente o contrário. As pessoas que, pelos seus destinos e pelos seus pecados e erros, caíram numa certa situação, por mais incorrecta que seja, formam geralmente para si mesmas uma noção de vida tal que lhes permite imaginar a sua situação como boa e respeitável. Para se consolidarem neste seu ponto de vista, tais pessoas, por instinto, aderem a um círculo humano em que se reconhece como correcta a noção que formaram da vida e do seu lugar nela. Este facto espanta-nos quando se trata dos ladrões que se gabam da sua habilidade, das prostitutas que se gabam da sua depravação, dos assassinos que se vangloriam da sua crueldade. E apenas nos espantamos porque o círculo, ou o ambiente, dessa gente é limitado e , antes de mais, porque estamos fora dele. Mas será que não acontece o mesmo fenómeno entre os ricaços que se vangloriam das suas fortunas, ou seja, da pilhagem, e dos potentados que se gabam do seu poder, ou seja, da arbitrariedade? Não vemos nestas pessoas uma deturpação das noções de vida, do bem e do mal, que justifica a situação delas, apenas porque o círculo que adere a estas noções deturpadas é mais amplo e porque nós próprios fazemos parte dele."

RESSURREIÇÃO, LEV TOLSTÓI

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Na Igreja...

...a ortodoxia da verdade única subestima a caridade. Desgraçadamente, parece cada vez mais anacrónico o empenhamento de João XXIII em dar sempre primazia à convocação de Lucas: "Paz na terra aos homens de boa vontade". Este já não é esse tempo, mas sim o da verdade impositiva e peremptória: "Sem a verdade, a caridade cai no mero sentimentalismo" ou "não há, pois, senão um humanismo verdadeiro que se abre ao absoluto no reconhecimento de uma vocação que dá a ideia verdadeira da vida humana" - palavras de Bento XVI na encíclica Caritas in Veritate. O monge de Montserrat Hilari Raguer lembra, no entanto, que "no juízo universal, seremos julgados pela caridade. Os que deram de comer ao faminto e de beber ao sedento, tê-lo-ão feito só por compaixão. Não sabiam que o faziam a Cristo e muito menos que aplicavam as encíclicas".

Tirado de palombellarossa.blogspot.com

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Dissessem.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Porquê
Esperar?
- Tudo é
Sonhar.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"O Iraque é um país de muitas viúvas e pouco Estado"

"Ninguém sabe quantas viúvas há no Iraque. São muitas e poucas recebem ajuda do Governo."

(...)

"Não é preciso saber quantas são as viúvas do Iraque para saber que este é um país de viúvas. Há quatro anos, no pico da violência sectária, 90 a 100 mulheres enviuvavam a cada dia. Entre 2005 e 2008, quando o Iraque parecia uma bomba humana, muitas mulheres fizeram-se explodir em atentados, como nunca antes em lugar nenhum. Dezenas eram viúvas."

(...)

"Hoje há entre um e três milhões de viúvas. Num país de 29 milhões, em que 40 por cento tem menos de 14 anos, basta saber isso para perceber que há demasiadas mulheres sozinhas com demasiados filhos para alimentar. Nas contas de Fatimah, "as mulheres são 60 por cento da população e metade são viúvas". Algumas "perderam o marido na guerra com o Irão, outras na guerra de 1991 e na revolta xiita que se seguiu, muitas nas explosões e assassínios".

A partir de um inquérito feito há dois anos, a Cruz Vermelha concluiu que entre as mulheres chefes de família em situação vulnerável só 10 por cento recebia pensão de viuvez, o que se explica pela burocracia, pela corrupção e por falta de fundos. Há um ano, a ajuda estatal chegava a 120 mil, sortudas, mas pouco: 70 mil dinares (45 euros) por mês mais 14 mil por filho não chega. Para a Cruz Vermelha, como nos explicou Hind, responsável da subdelegação de Bassorá para o programa Mulheres em Guerra, a linha de pobreza traça-se abaixo dos 230 mil dinares por mês.

Bassorá, capital do Sul desde que o Iraque é um país, já viu melhores dias. Falta peixe no Shat-al-Arab. o rio que liga a cidade ao Golfo Pérsico. Falta água. Falta trabalho. Falta electricidade. Falta tudo. Mas, como no resto do país, sobram viúvas e órfãos e há mulheres e miúdos a pedir na rua."

(...)

"Há viúvas que recebem alguns dinares do Governo e outras que não recebem nada. Algumas são prostitutas ou então aceitaram casar com um cunhado ou celebrar um contrato de casamento temporário (tradição xiita) que pode durar horas ou meses com os homens que controlam a distribuição dos fundos de ajuda."

sábado, 31 de julho de 2010

Dedica-te à leitura... Boas férias!


Dois dias depois tivemos que subir um monte chamado de Alto do Perdão. A subida demorou várias horas e, quando chegamos lá em cima, vi uma cena que me chocou; um grupo de turistas, com o rádio dos carros a todo volume, tomavam banho de sol e bebiam cervejas. Tinham aproveitado uma estrada vicinal que levava até o alto do monte.

– É assim mesmo – disse Petrus. – Ou você acha que ia encontrar aqui em cima um dos guerreiros de El Cid vigiando o próximo ataque dos mouros?

(...)

– Olhe em volta e fixe sua visão num ponto qualquer – disse.

Eu escolhi a cruz de uma igreja que conseguia ver ao longe.

– Mantenha seus olhos fixos neste ponto, e procure concentrar-se apenas no que eu vou lhe falar. Mesmo que você sinta qualquer coisa diferente, não se distraia. Faça como estou a dizer.

Fique em pé, relaxado, com os olhos fixos na torre, enquanto Petrus se colocou por detrás de mim e comprimiu um dedo na base da minha nuca.

– O caminho que você está a fazer é o caminho do Poder, e só os exercícios de Poder lhe serão ensinados. A viagem, que antes era uma tortura porque você queria apenas chegar, agora começa a transformar-se em prazer, no prazer da busca e da aventura. Com isto você está a alimentar uma coisa muito importante, que são seus sonhos.

“O homem nunca pode parar de sonhar. O sonho é o alimento da alma, como a comida é o alimento do corpo. Muitas vezes, na nossa existência, vemos os nossos sonhos desfeitos e os nossos desejos frustrados, mas é preciso continuar a sonhar, senão a nossa alma morre e a Ágape não penetra nela. Muito sangue já rolou no campo diante dos seus olhos, e aí foram travadas algumas das batalhas mais cruéis da Reconquista. Quem estava com a razão, ou com a verdade, não tem importância: o importante é saber que ambos os lados estavam a combater o Bom Combate.

“O Bom Combate é aquele que é travado porque o nosso coração pede. Nas épocas heróicas, no tempo dos cavaleiros andantes, isto era fácil, havia muita terra para conquistar e muita coisa para fazer. Hoje em dia, porém, o mundo mudou muito, e o Bom Combate foi transportado dos campos de batalha para dentro de nós mesmos.

“O Bom Combate é aquele que é travado em nome dos nossos sonhos. Quando eles explodem em nós com todo o seu vigor – na juventude – nós temos muita coragem, mas ainda não aprendemos a lutar. Depois de muito esforço, terminamos aprendendo a lutar, e então já não temos a mesma coragem para combater. Por causa disto, voltamo-nos contra nós e combatemos a nós mesmos, e passamos a ser nosso pior inimigo. Dizemos que os nossos sonhos eram infantis, difíceis de realizar, ou fruto do nosso desconhecimento das realidades da vida. Matamos os nossos sonhos porque temos medo de combater o Bom Combate.

A pressão do dedo de Petrus na minha nuca tornou-se mais intensa. Eu julguei que a torre da igreja se transformava – o contorno da cruz estava parecendo um homem de asas. Um anjo. Pisquei os olhos e a cruz voltou a ser o que era.

– O primeiro sintoma de que estamos a matar os nossos sonhos é a falta de tempo – continuou Petrus. – As pessoas mais ocupadas que conheci na minha vida sempre tinham tempo para tudo. As que nada faziam estavam sempre cansadas, não davam conta do pouco trabalho que precisavam realizar, e queixavam-se constantemente que o dia era curto demais. Na verdade, elas tinham medo de combater o Bom Combate.

“O segundo sintoma da morte dos nossos sonhos são as nossas certezas. Porque não queremos olhar a vida como uma grande aventura a ser vivida, passamos a julgar-nos sábios, justos e correctos no pouco que pedimos da existência. Olhamos para além das muralhas do nosso dia-dia e ouvimos o ruído de lanças que se quebram, o cheiro de suor e de pólvora, as grandes quedas e os olhares sedentos de conquista dos guerreiros. Mas nunca percebemos a alegria, a imensa Alegria que está no coração de quem está a lutar, porque para estes não importa nem a vitória nem a derrota, importa apenas combater o Bom Combate.

Finalmente, o terceiro sintoma da morte de nossos sonhos é a Paz. A vida passa a ser uma tarde de Domingo, sem nos pedir grandes coisas, e sem exigir mais do que queremos dar. Achamos então que estamos maduros, deixamos de lado as fantasias da infância, e conseguimos a nossa realização pessoal e profissional. Ficamos surpreendidos quando alguém de nossa idade diz que quer ainda isto ou aquilo da vida. Mas na verdade, no íntimo do nosso coração, sabemos que o que aconteceu foi que renunciamos à luta pelos nossos sonhos, a combater o Bom Combate.

A torre da igreja transformava-se a toda hora, e no seu lugar parecia surgir um anjo, com asas abertas. Por mais que eu piscasse, a figura permanecia lá. Tive vontade de falar com Petrus, mas senti que ele ainda não havia acabado.

– Quando renunciamos aos nossos sonhos e encontramos a paz – disse ele depois de um tempo – temos um pequeno período de tranquilidade. Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós, e infestar todo o ambiente em que vivemos. Começamos a tornar-nos cruéis com aqueles que nos cercam, e finalmente passamos a dirigir esta crueldade contra nós mesmos. Surgem as doenças e as psicoses. O que queríamos evitar no combate – a decepção e a derrota – passa a ser o único legado da nossa covardia. E um belo dia, os sonhos mortos e apodrecidos tornam-se o ar difícil de respirar e passamos a desejar a morte, a morte que nos livrasse das nossas certezas, das nossas ocupações, e daquela terrível paz das tardes de domingo.

Agora eu tinha certeza de que estava a ver mesmo um anjo, e não consegui mais seguir as palavras de Petrus. Ele deve ter percebido isto, pois tirou o dedo da minha nuca e parou de falar. A imagem do anjo permaneceu por alguns instantes, e depois desapareceu. No seu lugar, surgiu novamente a torre da igreja.

Ficamos alguns minutos em silêncio. Petrus enrolou um cigarro e começou a fumar. Eu tirei da mochila uma garrafa de vinho e bebi um gole. Estava quente, mas o sabor continuava o mesmo.

– O que é queviu? – perguntou ele.

Eu contei a história do anjo. Disse que no início, quando piscava, a imagem desaparecia.

– Também você tem que aprender a combater o Bom Combate. Já aprendeu a aceitar as aventuras e os desafios da vida, mas continua a querer negar o extraordinário.

Petrus tirou da mochila um pequeno objecto que me entregou. Era um alfinete de ouro.

– Isto é um presente do meu avô. Na Ordem de RAM, todos os Antigos possuíam um objecto como este. Chama-se “O Ponto da Crueldade”. Quando você viu o anjo a aparecer na torre da igreja, quis negá-lo. Porque não era uma coisa com a qual você estivesse acostumado. Na sua visão de mundo, as igrejas são igrejas e as visões só podem acontecer nos extases provocados pelos Rituais da Tradição.

Eu respondi que minha visão deve ter sido efeito da pressão que ele exercia na minha nuca.

– Está certo, mas não muda nada. O facto é que você rejeitou a visão. Felícia de Aquitânia deve ter visto algo semelhante, e apostou toda a sua vida no que viu: o resultado é que transformou a sua obra em Amor. O mesmo deve ter acontecido com o seu irmão. E o mesmo acontece com todo mundo, todos os dias: vemos sempre o melhor caminho a seguir, mas só andamos pelo caminho que estamos acostumados.

Petrus recomeçou a caminhar, e eu segui-o. Os raios de sol faziam brilhar o alfinete na minha mão.

– A única maneira de salvarmos os nossos sonhos, é sendo generosos conosco mesmos. Qualquer tentativa de autopunição – por mais sutil que seja, deve ser tratada com rigor. Para saber quando estamos sendo cruéis conosco mesmos, temos que transformar em dor física qualquer tentativa de dor espiritual: como culpa, remorso, indecisão, covardia. Transformando uma dor espiritual em dor física, saberemos o mal que ela pode nos causar.

(...)

– De todas as maneiras que o homem encontrou para fazer mal a si mesmo, a pior delas foi o Amor. Estamos sempre a sofrer por alguém que não nos ama, por alguém que nos deixou, por alguém que não quer nos deixar. Se estamos solteiros é porque ninguém nos quer, se estamos casados transformamos o casamento em escravidão. Que coisa terrível – completou mal-humorado.

Chegamos em frente a uma pequena praça, aonde estava a igreja que eu havia visto. Era pequena, sem grandes sofisticações arquitetônicas, e seu campanário elevava-se para o céu. Tentei ver de novo o anjo e não consegui nada.

Petrus ficou olhando a cruz lá em cima. Pensei que estivesse vendo o anjo, mas não: logo começou a falar comigo.

– Quando o Filho do Pai desceu à terra, ele trouxe o Amor. Mas como a humanidade só consegue entender o amor com sofrimento e sacrifício, terminaram por crucificá-lo. Se não fosse assim, ninguém acreditaria em seu amor, já que todos estavam acostumados a sofrer diariamente com suas próprias paixões.


Trechos do livro de Paulo Coelho "O Diário de um Mago"... estas férias dedica-te à leitura:-)

O que andas a ler? Faz as tuas sugestões de leitura...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

De todas as palavras escolhi água,
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
De todas as palavras escolhi dar.

De todas as palavras escolhi flor
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
De todas as palavras escolhi mel.

De todas as palavras escolhi voz
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.

E porque poesia e porque adeus
de todas as palavras escolhi dor.

Rosa Lobato de Faria


JB

terça-feira, 27 de julho de 2010

Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Niguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.

Ricardo Reis


JB

quarta-feira, 21 de julho de 2010


Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado,amordaçado,em sangue,exausto
e,mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.

Armindo Rodrigues (1904 - 1993)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isto é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

terça-feira, 13 de julho de 2010

Mudança, um mito ou uma realidade?


Fugazmente, a vida corre alinhavada às habituais tarefas diárias. A monotonia percorre-nos as entranhas e dificilmente nos separaremos dela. Com frequência, me deparo a agir como se de um ser mecânico me tratasse, como se a liberdade não fizesse parte das minhas ambições, como se a escolha por um mundo melhor não fosse minha. A verdade, é que não raras vezes sinto falta de força, sinto falta de vontade para me libertar das amarras que me prendem ao fraco passado.
Certa vez, questionaram-me sobre o que poderia eu fazer para mudar o mundo. Na minha mente, ecoou a palavra “NADA”. Senti-me sem forças e surgiu diante de mim a imagem imaginária de uma criança que, desconhecendo o meu nome, me pediu para mudar o seu rumo de vida. Contudo, sozinha não serei capaz de agir, um ser isolado não pode fazer nada. A pergunta era, deveras, absurda! (Não sei se é o meu medo que me faz classifica-la deste modo ou se a consciência que de facto “eu sou um ser com os outros, sozinha nada sou”). Odiei a pergunta e odiei-me a mim mesma por não saber responder. Poderia limitar-me a pronunciar meia dúzia de actos que são para todos um meio para melhorar a vida na Terra. Contudo, não consigo dizer algo que não consiga cumprir, neste tipo de situações a mentira aflige-me, não posso iludir as pessoas, não as posso fazer pensar que estes tipos de decisões são fáceis de tomar.
A mudança do mundo é real e concreta se duas, dezenas ou milhares de pessoas se juntaram e acreditarem que são capazes.
 EU não posso fazer nada para mudar o mundo, mas NÓS podemos!