terça-feira, 31 de agosto de 2010

Quando o dolce far niente se torna um tédio...

Portugal tem as férias de Verão lectivas mais longas... Os estudantes portugueses, crianças e jovens, têm o mais longo período de interrupção lectiva entre o final de um ano escolar e o início do seguinte... São por isso as férias mais ansiadas, mais do que as férias de Natal ou da Páscoa...

Por serem tão longas, muitos são os que conseguem um emprego nas férias... A maior parte passa uma semana ou duas de férias com os pais, amigos, visitam familiares... e os restantes dias são dedicados ao dolce far niente... Dorme-se até à hora de almoço, vêem-se muitas e demasiadas horas de televisão, vêem-se programas que nunca se tinham visto, passam-se horas na internet a navegar, a jogar, ou a falar com os amigos, lêem-se uns livros e umas revistas e depressa o dolce far niente se torna um tédio.

Torna-se um tédio porque muitos estudantes passam o dia em casa, sozinhos ou com os irmãos, e poucas são as vezes que estão com os amigos e colegas... São muitas horas, muitos dias, a "fazer nada"... e o "fazer nada" acaba por cansar e não dá vontade de fazer aluguma coisa, apenas "fazer nada"...

É esta então uma boa época para que institutos, organizações, autarquias e outros tomem iniciativas que ocupem estes estudantes... Se bem que, e arrisco ao dizê-lo, a melhor iniciativa que se pode oferecer a este público é apenas a disponibilização de um espaço, um local que reúna condições para que os estudantes ali se juntem... Não será preciso muito mais, a criatividade, imaginação e iniciativa fazem o resto... E este resto pode tornar-se em algo mais.

Hoje, mais do que nunca, é necessário que se criem oportunidades para que as ideias e projectos se desenvolvam... é preciso um espaço onde o pensamento possa vaguear...


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias frios em casa me esconder.
Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver.

Martin Luther King

sábado, 28 de agosto de 2010

"Água mole em pedra dura...

Enquanto jovem, Abraham Lincoln, teve um negócio que fracassou e fechou. Depois meteu-se na política e perdeu as eleições de 1832. Voltou aos negócios e faliu novamente. A sua noiva, com quem iria casar-se em breve, faleceu em 1835; Lincoln adoeceu de doença nervosa que conseguiu vencer, para concorrer ás eleições de 1838 e voltar a sair derrotado. Voltou a concorrer e a perder nas eleições para o Congresso norte-americano de 1840, 1843 e 1848. Apesar dos sucessivos fracassos, voltou a tentar, e em 1860 foi eleito presidente dos Estados Unidos e reeleito quatro anos depois.

... Tanto bate até que fura."

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Acrescento que a justiça é, no grau máximo, a virtude completa, porque quem a possui pode aplicá-la em relação aos outros e não somente a si mesmo. O pior dos homens é o que, pela sua perversidade, prejudica simultaneamente a si próprio e aos seus semelhantes. Mas o homem mais perfeito não é o que emprega a justiça em si mesmo, mas o que a emprega a favor do outro.

Aristóteles

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Um dia, houve uma fuga no bloco 14...

No campo de concentração de Auschwitz, Maximiliano Kolbe, padre, era o preso tatuado 16.670. Aí ajudou os seus companheiros, sobretudo judeus. Um dia, houve uma fuga no bloco 14, no qual estava o Pe. Kolbe. Os nazis submeteram os companheiros dos fugitivos a todo o tipo de torturas para se descobrir os cúmplices e, no final, decidiram matar dez presos escolhidos ao acaso. Puseram-nos em forma e, quando os levavam, o Pe. Kolbe deu um passo em frente e dirigiu-se ao comadante:
- Quero tomar o lugar de um dos condenados.
Atónito, o comandante perguntou-lhe quem era e ele disse-lhe:
- Sou um sacerdote católico.
Deu-lhe esta resposta sabendo que depois dos judeus, os padres eram os mais perseguidos pelos nazis.
- Queres tomar o lugar de quem?
- O desse homem que tem mulher e filhos.
Levaram-no com os outros escolhidos para uma barraca na qual iam morrer de fome. Só o Pe. Kolbe e outros três aguentaram até ao dia 15, quando lhes deram uma injecção letal porque precisavam da barraca para outros presos.
Nos anos sessenta do séc. XX, no dia da canonização do Pe. Kolbe - Patrono dos presos - chegaram a Roma, vindos da Polónia, Francisco Gajowniczek e toda a sua família. Era o homem que o Pe. Kolbe tinha substituído.



Obra de Felix Nussbaum (1904-1944). Nussbaum morreu com a mulher em Auschwitz, em 1944, a poucos meses da libertação do campo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Caminhante, tuas pegadas são apenas o caminho; caminhante, não há caminho, faz-se caminho, caminhando.
Caminhando se faz caminho; olhando para trás, vê-se a senda que nunca mais se voltará a pisar.
Caminhante, não há caminho, mas rastos de espuma no mar.

António Machado


sábado, 21 de agosto de 2010

"No entanto, era precisamente assim que tinha de ser. Qualquer pessoa, para desenvolver uma actividade, seja de que género for, precisa de considerar a sua actividade como importante e boa. Por isso, qualquer que seja a situação de uma pessoa, ela formará, obrigatoriamente, um ponto de vista sobre a vida humana em geral que a levará a considerar a sua actividade importante e boa.

Pensa-se normalmente que o ladrão, o assassino, o espião, a prostituta, reconhecendo a sua profissão como má, têm vergonha dela. Na realidade, acontece precisamente o contrário. As pessoas que, pelos seus destinos e pelos seus pecados e erros, caíram numa certa situação, por mais incorrecta que seja, formam geralmente para si mesmas uma noção de vida tal que lhes permite imaginar a sua situação como boa e respeitável. Para se consolidarem neste seu ponto de vista, tais pessoas, por instinto, aderem a um círculo humano em que se reconhece como correcta a noção que formaram da vida e do seu lugar nela. Este facto espanta-nos quando se trata dos ladrões que se gabam da sua habilidade, das prostitutas que se gabam da sua depravação, dos assassinos que se vangloriam da sua crueldade. E apenas nos espantamos porque o círculo, ou o ambiente, dessa gente é limitado e , antes de mais, porque estamos fora dele. Mas será que não acontece o mesmo fenómeno entre os ricaços que se vangloriam das suas fortunas, ou seja, da pilhagem, e dos potentados que se gabam do seu poder, ou seja, da arbitrariedade? Não vemos nestas pessoas uma deturpação das noções de vida, do bem e do mal, que justifica a situação delas, apenas porque o círculo que adere a estas noções deturpadas é mais amplo e porque nós próprios fazemos parte dele."

RESSURREIÇÃO, LEV TOLSTÓI

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Na Igreja...

...a ortodoxia da verdade única subestima a caridade. Desgraçadamente, parece cada vez mais anacrónico o empenhamento de João XXIII em dar sempre primazia à convocação de Lucas: "Paz na terra aos homens de boa vontade". Este já não é esse tempo, mas sim o da verdade impositiva e peremptória: "Sem a verdade, a caridade cai no mero sentimentalismo" ou "não há, pois, senão um humanismo verdadeiro que se abre ao absoluto no reconhecimento de uma vocação que dá a ideia verdadeira da vida humana" - palavras de Bento XVI na encíclica Caritas in Veritate. O monge de Montserrat Hilari Raguer lembra, no entanto, que "no juízo universal, seremos julgados pela caridade. Os que deram de comer ao faminto e de beber ao sedento, tê-lo-ão feito só por compaixão. Não sabiam que o faziam a Cristo e muito menos que aplicavam as encíclicas".

Tirado de palombellarossa.blogspot.com

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Dissessem.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Porquê
Esperar?
- Tudo é
Sonhar.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"O Iraque é um país de muitas viúvas e pouco Estado"

"Ninguém sabe quantas viúvas há no Iraque. São muitas e poucas recebem ajuda do Governo."

(...)

"Não é preciso saber quantas são as viúvas do Iraque para saber que este é um país de viúvas. Há quatro anos, no pico da violência sectária, 90 a 100 mulheres enviuvavam a cada dia. Entre 2005 e 2008, quando o Iraque parecia uma bomba humana, muitas mulheres fizeram-se explodir em atentados, como nunca antes em lugar nenhum. Dezenas eram viúvas."

(...)

"Hoje há entre um e três milhões de viúvas. Num país de 29 milhões, em que 40 por cento tem menos de 14 anos, basta saber isso para perceber que há demasiadas mulheres sozinhas com demasiados filhos para alimentar. Nas contas de Fatimah, "as mulheres são 60 por cento da população e metade são viúvas". Algumas "perderam o marido na guerra com o Irão, outras na guerra de 1991 e na revolta xiita que se seguiu, muitas nas explosões e assassínios".

A partir de um inquérito feito há dois anos, a Cruz Vermelha concluiu que entre as mulheres chefes de família em situação vulnerável só 10 por cento recebia pensão de viuvez, o que se explica pela burocracia, pela corrupção e por falta de fundos. Há um ano, a ajuda estatal chegava a 120 mil, sortudas, mas pouco: 70 mil dinares (45 euros) por mês mais 14 mil por filho não chega. Para a Cruz Vermelha, como nos explicou Hind, responsável da subdelegação de Bassorá para o programa Mulheres em Guerra, a linha de pobreza traça-se abaixo dos 230 mil dinares por mês.

Bassorá, capital do Sul desde que o Iraque é um país, já viu melhores dias. Falta peixe no Shat-al-Arab. o rio que liga a cidade ao Golfo Pérsico. Falta água. Falta trabalho. Falta electricidade. Falta tudo. Mas, como no resto do país, sobram viúvas e órfãos e há mulheres e miúdos a pedir na rua."

(...)

"Há viúvas que recebem alguns dinares do Governo e outras que não recebem nada. Algumas são prostitutas ou então aceitaram casar com um cunhado ou celebrar um contrato de casamento temporário (tradição xiita) que pode durar horas ou meses com os homens que controlam a distribuição dos fundos de ajuda."