quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Não há controlo no fornecimento de álcool a adolescentes

“Temos leis que não permitem que os menores de 16 anos comprem bebidas alcoólicas mas, nas discotecas e bares, esta medida não é implementada e não há controlo”, exemplificou Matej Kosir, que coordena o projecto Club Health - Healthy and Safer Nightlife of Youth, que conta com 20 associados, entre os quais 15 Estados-membros da União Europeia e a Noruega.

Matej Kosir foi um dos oradores da II Escola de Verão em Educação pelos Pares (PEER 2010), que decorre até amanhã em Coimbra, organizada pela Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEnfC) e pelo IREFREA Portugal (Instituto Europeu para o Estudo dos Fatores de Risco e Factores de Protecção em Crianças e Adolescentes).

“Os profissionais [de bares e discotecas] sabem que são menores, mas não estão conscientes dos problemas que o consumo de álcool pode causar”, disse ainda o responsável, em declarações à agência Lusa à margem do evento.

Na sua intervenção, este especialista em políticas de saúde pública afirmou que “não há informação de qualidade para as pessoas que fazem as políticas” e estas, geralmente, não produzem efeitos práticos, e aludiu a “uma tendência crescente para beber para ficar embriagado” e a que, cada vez mais, os jovens saírem com o intuito de se embebedar.

Por outro lado, destacou a importância da formação e sensibilização dos profissionais que trabalham nos espaços de diversão nocturna.

“Estes profissionais não estão conscientes da multiplicidade de problemas que podem surgir. É uma das formas mais eficazes para diminuir os problemas na vida nocturna”, salientou.

Segundo o coordenador do Club Health, neste contexto da diversão nocturna, “a dimensão dos problemas [dos jovens] com drogas ilícitas não é tão grande como com o álcool”, contudo existem “muitas mais intervenções” destinadas àquelas substâncias do que ao álcool.

“A vida nocturna é diversão para os jovens e não a queremos reduzir, mas há muitos problemas relacionados, em termos de saúde, violência, sexo não protegido e não consensual, acidentes rodoviários... Pelo que queremos torná-la mais saudável e mais segura”, afirmou, ao frisar também a importância da cooperação entre os atores locais e de intervenções multidisciplinares."

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Poema da revolta

O que pode o humano coração frente aos farelos de pão
em que a criança busca esperança?
O que pode,
pergunto, sozinho no pesadelo real,
o que pode o humano coração
frente à avalanche de cacos de vidro,
de mísseis,
de inocências povoadas pela barbárie,
quando o ódio é uma receita
servida no quotidiano e com a nossa permissão?

Onde vamos assim,
zumbis sem causa,
por essa rua alienada de si mesmo,
que passa esquecendo o que nunca soube ver?
Onde vamos na calada da noite,
onde os amigos estão sepultados por mãos de metal,
lógica borrada pela lógica pífia
das notas de dólares
e as mil transações mundiais que esquecem o mundo (...)

Meus olhos são pequenos demais pra se dar conta de tanta dor.
Muito pequenos!
Sou tão pequeno,
tão pequeno,
que estas letras têm ar de inutilidade,
descaso,
até ofensa,
ofensa pequeno-burguesa
de estar a falar de um sofrimento que jamais saberei do que se trata.
Ou saberia?
Terrível angústia
de um homem sem destino
diante do destino inexorável.

Dispo-me de qualquer carga fraternal.
Não é solidarismos que ofereço.
Ofereço meu desespero e o ódio.
Ódio de nós mesmos,
que mal percebemos o bicho-homem que se mistura com os dejetos.
Ódio da pátria amada,
amores de carvão
que queimam alguma coisa dentro de cada um.

(...)
Poesia incendiária,
vem falar da etiqueta na tua calça:
"e tu chamas isso de evolução".

Volmir M. G

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A História das Coisas

"Todos os projectos são desenhados de modo a não mexer no resto da sociedade. Essa é uma limitação decisiva. Se não há mudança social, não pode haver erradicação da pobreza. Se os programas não tocam no resto da sociedade, tentam resolver a pobreza dentro do universo da pobreza, mas não estão a resolver as causas. "

Alfredo Bruto da Costa

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Não acredito que haja hipótese de alterar o que quer que seja durante o nosso tempo de vida. Mas podemos imaginar focos de resistência a nascer aqui e ali... pequenos grupos de pessoas que se organizam, que vão crescendo a pouco e pouco, deixando talvez até um testemunho, de forma que a próxima geração possa partir do ponto em que ficámos.

Excerto do livro 1984, de George Orwell

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Portugal sofre de "ciganofobia"

"Portugal sofre de “ciganofobia” e mais de 80 por cento da população tem comportamentos racistas contra os ciganos, defendeu o antropólogo José Pereira Bastos, para quem não há ninguém em Portugal que se interesse por estas pessoas."

Depois do que vemos passar-se em França com a expulsão de milhares de ciganos de volta para os seus países de origem, é boa altura para em Portugal pensarmos acerca do mesmo assunto.

"Ninguém se interessa por estas pessoas", mas será que "estas pessoas" merecem interesse?

Para ajudar ao debate, deixo alguns comentários da caixa de comentários do citado artigo do Público:


"Porque será? Queres vêr que o povo português não tem direito e reagir contra aquilo que o prejudica venha de onde vier."

"Tendo em conta a forma de vida predominantemente parasitária da maioria dos ciganos, claro que seria de estranhar que aqueles que são directamente prejudicados pela sua conduta aceitassem de bom grado continuar a ser roubados, agredidos na escola e ameaçados na rua e muitas vezes em casa e no local de trabalho por gente que não respeita a lei e os direitos do outros. Solicito aos senhores que estão dispostos a tolerar estes comportamentos para acolher os ciganos em sua casa e para irem morar para junto deles. Não sejam hipócritas."

"o estado DÁ: casa de borla, rendimento mínimo garantido e vai fechando os olhos às actividade 'económicas' paralelas. Em troca recebe, assaltos, violência nas escolas, parasitismo social, degradação de espaços públicos... Mas temos de aguentar com tudo porque nós já fizémos mal a muita gente! Que rica lógica... Vê-se mesmo que não faz a mínima ideia do que é um bairro social... Quem não vem pa trabalhar, não faz cá falta! Malandros já nós temos com fartura, não precisamos de importar...."

"Parece que No meu bairro há um cigano que é tão ladrão, tão falso e tão fingido que até já lhe chamamos o Português!" (sem duvida o melhor comentário de todos...ahahah)

"Em lugar de estudar as razões porque os portugueses não gostam dos ciganos, esse senhor pseudo investigador científico vem chamar-nos de racistas. As pessoas não gostam de ciganos simplesmente porque a esmagadora maioria das pessoas desta etnia não respeitam as regras da nossa sociedade, agridem-nos, roubam-nos e violentam-nos diariamente. Devemos gostar e ter respeito por aqueles que não nos respeitam e que, para além disso, vivem à nossa custa através dos subsídios generosos que recebem do Estado, das casas que o Estado lhe dá gratuitamente, tudo pago por nós que trabalhamos e respeitamos a lei ?"

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Porque...


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude 
Para comprar o que não tem perdão. 
Porque os outros têm medo mas tu não. 
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não. 

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos. 
Porque os outros calculam mas tu não.


                                                            Sophia de Mello Breyner Anderson 

Trova do Vento que Passa



"Há sempre alguém que resiste. Há sempre alguém que diz não..."

França vai pôr fim à igualdade perante a lei?

José Vitor Malheiros, Público

Os "criminosos de origem estrangeira" são as maçãs podres que contaminam a sociedade dos "verdadeiros franceses"


Os sindicatos franceses convocaram para hoje em todo o país manifestações de protesto contra as reformas da Segurança Social propostas pelo presidente Nicolas Sarkozy. A subida da idade de reforma dos 60 para os 62 anos constitui a principal razão da contestação sindical, mas os desfiles de rua irão certamente focar também outras razões de protesto, como as suspeitas de financiamento ilegal da campanha presidencial de Sarkozy em 2007, as suspeitas de favorecimento fiscal da multimilionária Liliane Bettencourt e de tráfico de influências envolvendo o ministro Eric Woerth e o escândalo do tratamento policial discriminatório dado aos ciganos - dos quais cerca de mil já foram expulsos para a Roménia e Bulgária nos últimos três meses.

As expulsões de ciganos têm sido o pico do icebergue da "política de segurança" de Sarkozy, que prometeu erradicar de França os "elementos criminosos de origem estrangeira". Estes "criminosos de origem estrangeira" são, de acordo com o discurso sarkozista, as maçãs podres que contaminam um tecido social francês de gema que é ordeiro e amante da paz.

Apesar da atenção que as expulsões de ciganos têm merecido - devido, em grande parte, às imagens pungentes captadas quando do desmantelamento de acampamentos de ciganos e da sua deportação -, existe outra medida anunciada, na mesma linha, que se revela ainda mais preocupante, não apenas devido às suas intenções, mas devido à fraca contestação que a oposição lhe tem dedicado.

Trata-se da alteração (i)legal que Sarkozy preconiza, no sentido de retirar a nacionalidade francesa aos franceses naturalizados que cometam crimes graves - nomeadamente contra elementos das forças da ordem. A medida, a ser aprovada, criará duas classes de cidadãos, definindo penas diferentes pelo mesmo crime para cidadãos "franceses de gema" e para "neofranceses", reinstaurando um sistema penal de base étnica de triste memória.

É irrelevante que o Sarkozy-filho-de-emigrantes acredite ou não nas patranhas da particular inclinação para o crime dos "ciganos de origem romena e búlgara" - ao longo do Verão foi preciso afinar o tiro e especificar etnias com cuidados de bordadeira, quando se descobriu que a esmagadora maioria dos chamados "ciganos nómadas" eram afinal... franceses. O que é relevante é que a estigmatização étnica seja possível no século XXI e se traduza em votos. O que Sarkozy pretende não é evidentemente aumentar a segurança, mas apenas garantir a sua reeleição em 2012 e conta com as tiradas e medidas xenófobas para recuperar uma popularidade que atingiu níveis mínimos desde a eleição.

As redes criminosas que existam no meio dos ciganos não são mais perigosas que a actividade dos banqueiros e não é por isso que se deportam os banqueiros - mas estes, como é sabido, são ricos.

Não está aqui em causa se existem redes de crime organizado entre os ciganos e se o nomadismo pode facilitar o seu encobrimento - há provas de que elas existem e a esquerda francesa faz mal em tentar recusar o óbvio. O que está em causa é o estabelecimento da equação cigano=criminoso e estrangeiro=criminoso que o Presidente e o Governo francês têm feito tudo para afirmar, alimentando os mais baixos sentimentos de uma classe média e baixa em perda de poder de compra e risco de desemprego. (Veja-se o apoio popular às declarações racistas do banqueiro Thilo Sarrazin na Alemanha.)

Hoje as ruas das cidades de França vão certamente encher-se de slogans anti-Sarkozy e os manifestantes vão congratular-se na sua solidariedade humanista com os emigrantes. Mas dentro de casa ficará uma camada considerável de pessoas, talvez crescente, para quem Sarkozy fala, que está pronta a aceitar leis diferentes para cidadãos conforme a sua origem geográfica ou a sua cor da sua pele, e que o estarão tanto mais quanto mais a situação social se degradar. Algo que teríamos considerado impensável em 1945.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

A Desuniversidade...

"o processo de Bolonha é uma reforma ou uma contra-reforma? A reforma é a transformação da universidade que a prepare para responder criativamente aos desafios do século XXI, em cuja definição ela activamente participa. A contra-reforma é a imposição à universidade de desafios que legitimam a sua total descaracterização, sob o pretexto da reforma. A questão não tem, por agora, resposta, pois está tudo em aberto. Há, no entanto, sinais perturbadores de que as forças da contra-reforma podem vir a prevalecer."

"abandonam-se os princípios do internacionalismo universitário solidário e do respeito pela diversidade cultural e institucional em nome da eficiência do mercado universitário europeu e da competitividade; as universidades mais débeis (concentradas nos países mais débeis) são lançadas pelas agências de rating universitário no caixote do lixo do ranking, tão supostamente rigoroso quanto realmente arbitrário e subjectivo, e sofrerão as consequências do desinvestimento público acelerado; muitas universidades encerrarão e, tal como já está a acontecer a outros níveis de ensino, os estudantes e seus pais vaguearão pelos países em busca da melhor ratio qualidade/preço, tal como já fazem nos centros comerciais em que as universidades entretanto se terão transformado."

"Os estudantes serão donos da sua aprendizagem e do seu endividamento para o resto da vida, em permanente deslize da cultura estudantil para cultura do consumo estudantil, autónomos nas escolhas de que não conhecem a lógica nem os limites, personalizadamente orientados para as saídas do desemprego profissional."


Boaventura de Sousa Santos in Visão

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"Tenho dó das estrelas
Luzindo à tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim,
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão -
Qualquer coisa assim
Como um perdão?"

Fernando Pessoa