quarta-feira, 27 de outubro de 2010

De Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anónimo e frio,
A vida vivida em vão.

A ‘sp’rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha ‘s’prança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam — verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças —
Mortas, porque hão de morrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim —
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser — muro
Do meu deserto jardim.

Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Praxes: socializaçao ou perversão?

"Perante esta tendência inquietante, e que parece agravar-se de ano para ano, o desafio neste domínio terá de passar por uma “refundação” dos princípios da praxe, incutindo-lhes um novo sentido pedagógico, conteúdos informativos e comportamentos amigáveis e acolhedores para os recém chegados. É preciso adaptar a “tradição” às condições do presente. Os actuais rituais da praxe estudantil não são apenas a fachada da vincada hierarquia inscrita no próprio “código genético” da Universidade. Eles reflectem – pelo menos nas suas modalidades mais extremas – uma perversão de valores que perdeu autenticidade, perdeu conteúdo e perdeu sentido. A praxe corre o risco de resvalar para perigosos comportamentos anti-sociais (e obrigar à acção repressiva), caso a colectividade, a começar pelo corpo estudantil, as estruturas associativas, os grupos organizados e as instituições universitárias não saibam travar a tempo as formas “rascas” de que a mesma se vem revestindo nos últimos tempos."

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Questionamentos acerca de supostas contradições

Li há algum tempo na blogosfera uma discussão que podia ser um autêntico case study da sociologia e da teoria política. (Infelizmente, não me lembro onde, mas sei o fundamental da questão).

O contexto era uma defesa dos direitos dos homossexuais que era feita, como é de esperar, por alguém de esquerda. O argumento é rápido mas nem por isso é simples: a igualdade como "valor" - talvez o principal a ter em conta por uma sociedade.

Ora, é exactamente este mesmo argumento que faz a esquerda defender também os direitos dos imigrantes, por exemplo, os imigrantes do muçulmanos ou os ciganos que estão actualmente a ser questionados em alguns países europeus.

Neste contexto, alguém levantava uma questão parecendo ter descoberto a grande raiz do mal da esquerda numa suposta contradição: lembrava esta pessoa que num qualquer país da Europa (Holanda ou Bélgica, não tenho a certeza) era perigoso assumir a homossexualidade publicamente porque os imigrantes islâmicos os perseguiam e até matavam por fanatismo religioso.

Como conciliar então a defesa dos direitos dos homossexuais e dos muçulmanos com a preservação da sua cultura se estes dois direitos chocam tão directamente um com o outro?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Sorriso de Deus...




Albino Luciani, Papa João Paulo I
N: 17/10/1912
F: 28/09/1978

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre este extraordinário (e tantas vezes esquecido) Papa, aqui fica o link para a página na Wikipédia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O polémico genérico dos Simpsons...

Visão: O que acontece quando se convida um polémico graffiter para assinar um genérico? Prepara-se para a polémica, claro está. Banksy aproveitou a oportunidade de criar uma abertura para os Simpsons para denunciar as condições em que é feito o material de merchandising da série.

Público: A sequência de abertura idealizada por Banksy termina com um trecho de um minuto de duração que mostra trabalhadores asiáticos a colorir manualmente, num regime de quase escravatura, as vinhetas de animação da série [...]. A cena passa-se numa fábrica onde são feitos os produtos de merchandising da série. Vêem-se crianças a trabalhar, ossadas amontoadas de antigos trabalhadores, animais a serem mortos para encherem Barts de peluche e um unicórnio cansado cujo chifre serve para furar DVD’s.

Esta extensa sequência foi aparentemente inspirada na teoria que os produtores dos Simpsons recorrem a empresas sul-coreanas para animarem, em regime de outsourcing, a família amarela mais famosa do mundo.

De acordo com Banksy, citado pela BBC, o argumento para a sequência de abertura deu origem a atrasos e discussões acerca das normas de difusão televisiva, chegando mesmo a haver uma ameaça de demissão por parte do departamento de animação. “É isto que acontece quando trabalhamos com recurso a outsourcing”, ironizou um dos produtores-executivos dos Simpsons, Al Jean.




Este episódio (chamado MoneyBart) foi emitido no passado Domingo, dia 10, nos EUA e foi a primeira vez que um artista foi convidado para criar a sequência de abertura.

Alguns dos coméntários da caixa do PÚBLICO:

  • Para mim parecia uma fábrica na China
  • Foi este tipo de comédia que tornou os Simpsons grandes. Contudo, mais recentemente as piadas têm-se tornado cada vez mais imediatas e menos inteligentes. Assim, saúdo esta iniciativa da série ao convidar um artista satirico para criar a sequência de abertura e voltar a abalar os espíritos do mundo.Espero tê-los na minha televisão, pelo menos, durante mais vinte anos. J. Pifre.
  • Este genérico dos "Simpsons" é escandaloso/polémico, mas a realidade satirizada/retratada não o é?

  • É fabuloso o sentido de humor desta malta e a capacidade de se reinventarem para continuar a impressionar após tantos anos de emissão.Uma das melhores séries de humor de sempre.
  • Bansky não é apenas um artista satírico e humorista. O humor e a sátira são apenas algumas das ferramentas que Bansky utiliza para denunciar os podres das nossas sociedades. Não se percebe porque é que jornalista não faz referencia a isso, ah, espera... se calhar não interessa....
  • Como a realidade dói......
  • Profundo.

"Mas nós somos uma revista com sorisos :-)

Excerto do editorial da revista AULA MAGNA.
Edição 07
PDF da revista aqui.

Todos os editoriais do início do ano lectivo falam do início do ano lectivo. É uma pena, mas nós vamos falar mesmo é do Quim Barreiros. Para quem conhece mal a nossa revista, pode parecer estranho, assim como se aparecesse um smiley no nosso editorial. :-) Mas nós somos uma revista com sorrisos. Só não somos nem queremos ser um jornal de traques engraçados e de palermices do dia-a-dia, daqueles que acham que os leitores são todos atrasados mentais e que é preciso escrever para esse nível. Na Aula Magna achamos que os nossos leitores não são atrasados mentais. Talvez seja esse o segredo do sucesso que temos tido entre os estudantes.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Centenário da República

O centenário da República é uma data a celebrar. Não tanto pelo simbolismo que estes cem anos representam, mas sim por cem anos de história, de personalidades que insurgiram e que deram o seu contributo para um avanço técnico e científico de Portugal. O regime hoje em vigor, foi uma conquista de Homens com sonhos e ideais que há cem anos se impuseram à monarquia e implantaram a República.

Em 1890, Portugal vivia uma crise generalizada, grande parte da população portuguesa activa era analfabeta e os trabalhadores qualificados eram uma minoria, o que se espelhava nas produções de baixa escala e em pequenos índices de produtividade por trabalhador. Em comparação a outros países europeus, Portugal estava aquém do que por essa Europa se criava e desenvolvia.

A questão do mapa cor-de-rosa, também em 1890, levou o povo a desacreditar o regime monárquico e em 1891, a revolta republicana no Porto comprovou e acentuou o descontentamento e desilusão da população face à monarquia. É neste contexto que as ideias republicanas ganham um maior contorno do que já tinham e conseguem apoiantes de um povo que vê a burguesia a engrandecer-se e uma família real que vive com todos os luxos. Esta agitação culmina a 5 de Outubro de 1910 com a implantação da república.

Com a 1ª República são implementadas reformas na educação e no sector do trabalho. Os republicanos sempre defenderam a importância da instrução para o desenvolvimento de um país em que mais de metade da população vivia da produção agrícola. Em relação ao sector laboral, os republicanos tentaram responder ás reivindicações dos trabalhadores a fim de diminuir as injustiças sociais e melhorar as condições de trabalho.

No entanto, as reformas tomadas não surtiram o efeito esperado…Em 16 anos, Portugal teve 8 Presidentes da República e 45 governos. Tal situação contribuiu para que se gerasse um clima de instabilidade social e de descontentamento na população. Adivinhava-se assim, o fim da Primeira República. A revolta de 28 de Maio de 1926 marcou o início da ditadura militar do Estado Novo. Iniciava-se assim, um novo período da história de Portugal e dos portugueses em que uma vez mais Homens se insurgiram para pôr fim a um regime repressivo e ditatorial a 25 de Abril de 1974.

Viva a República...

Louvor do Revolucionário

Quando a opressão aumenta
Muitos se desencorajam
Mas a coragem dele cresce.
Ele organiza a luta
Pelo tostão do salário, pela água do chá
E pelo poder no Estado.
Pergunta à propriedade:
Donde vens tu?
Pergunta às opiniões:
A quem aproveitais?

Onde quer que todos calem
Ali falará ele
E onde reina a opressão e se fala do Destino
Ele nomeará os nomes.

Onde se senta à mesa
Senta-se a insatisfação à mesa
A comida estraga-se
E reconhece-se que o quarto é acanhado.

Pra onde quer que o expulsem, para lá
Vai a revolta, e donde é escorraçado
Fica ainda lá o desassossego.

Bertold Brecht In 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e ter por fim da caminhada um objectivo agradável: eis, de todas as maneiras de viver, aquela que mais me agrada.

Rousseau