quinta-feira, 30 de junho de 2011

Grupos de jovens, crise de vocações e a resposta da sociologia...

Um dos resultados da sociedade crescentemente neoliberal onde vivemos é uma tendência forte para abandonar o pensamento em torno da sociedade para o centrar no indivíduo. Isto é notório mesmo em grupos onde o individualismo é constantemente criticado, como nos grupos ligados à Igreja Católica.

Este texto é sobre grupos de jovens primeiramente, usa a crise de vocações como exemplo e, ao contrário de milhares de textos e reflexões escritas e pensadas sobre estes assuntos, tenta fundar-se na sociologia para encontrar respostas e conclusões válidas.

O verdadeiro ponto de partida é: os grupos de jovens ligados à IC estão numa forte e prolongada crise. São descontínuos, começam e acabam muito depressa sem cumprirem grande parte dos seus propósitos, dependem demasiado da dinâmica dos seus animadores e, em caso de saída destes, normalmente sofrem quebras profundas. Não funcionam verdadeiramente como aproximação dos jovens à Igreja a não ser trazendo alguma animação ao que antes era apenas soturno e escuro. Mas acima de tudo, numa sociedade onde os membros destes grupos conseguem tão facilmente descrever os defeitos e os caminhos perigosos (individualismo, consumismo, egoísmo, etc...), não conseguem ser forças activas na sua transformação.

Obviamente que esta minha análise depende, em grande medida da minha própria noção da função dos grupos de jovens. Se aceitarmos uma definição geral como "trazer o espírito jovem para a Igreja e ajudar os jovens a crescer dentro desta" não podemos deixar de notar que o simples papel de animar missas ou orações é demasiado restrito. Ora, se isto é possivelmente consensual, o que não o será vem a seguir.

Volto agora ao que referi no parágrafo inicial. Para além da animação de missas e convívios no geral, os grupos de jovens contam com inúmeras formas de retiro espiritual, de discernimento vocacional, de reflexão pessoal sobre o papel de cada um de nós enquanto cristãos, etc... E é aqui que entra o meu ponto: tudo isto é demasiado pessoal, demasiado centrado no indivíduo, na sua salvação pessoal, no seu caminho pessoal. É um resultado da sociedade individualista mas também da própria concepção cristã de salvação, entendida num sentido individual (em contraponto à ideia de "povo eleito" do judaísmo).

O resultado de tudo isto é que, quando confrontados com a realidade de crise que descrevi em cima, as respostas não surgem senão no plano individual. Entra aqui a crise vocacional.

Obviamente que a decisão de seguir um caminho de vocação sacerdotal ou de vida consagrada é, felizmente na actualidade é, um caminho marcadamente pessoal e uma escolha do indivíduo. O que está em questão então? O problema surge antes disto: na verdade, o que não existe são pessoas a sequer por a questão de algum dia vir a pensar em discernir sobre um caminho vocacional. Ou seja, o problema está antes da decisão se tornar individual. De forma mais explícita podemos expor assim: Ainda que caiba a um jovem, individualmente, entrar num caminho de discernimento vocacional, esse jovem só entrará nesse caminho após um outro caminho social e de grupo que lhe abre essas portas.

O resultado de tudo isto é que, quando nos questionamos sobre a falta de vocações, muito rapidamente nos colocamos no papel de um jovem e tentamos pensar como ele (gostava de casar, os amigos iam gozar, a missa é uma seca...) mas nenhuma análise sobre os jovens enquanto grupo social surge aqui.

Volto aos grupos de jovens porque estão intrinsecamente ligados à procura de vocações. Todos os retiros e os momentos de reflexão têm normalmente esta intenção: cada um conseguir discernir qual a sua vocação. Mas é uma tentativa frustrada de tentar introduzir a parte individual do caminho sem antes se ter passado pela parte social.

Devemos então munir-nos de um conhecimento sobre a realidade complexa da sociedade jovem. Atirar para o ar que "os jovens de hoje-em-dia não querem é pensar" é errado porque parece pressupor que houve uma mutação genética que os diferencia dos jovens de antigamente. Atirar que "os jovens só querem é facilidades" deixa-nos no mesmo estado de indefinição. Atirar que "a culpa é dos país que já não impõem respeito" é demasiado limitado enquanto explicação. Perceber os jovens exige mais do que já ter passado por essa faixa etária em tempos idos e exige mais do que sê-lo actualmente. Exige antes um conhecimento da realidade histórica, sociológica, económica, política e sociológica que rodeia a sociedade em geral e os jovens em particular. Exige, por exemplo, entender que o individualismo não serve para ser lançado ao ar como suposto cancro da sociedade sem que antes entendamos o que significa, o seu alcance, de onde surge e como cresce e se desenvolve na sociedade.

Esta abordagem muda completamente a forma de ver os grupos de jovens. Em primeiro lugar, ajuda-nos a responder porque é que é tão difícil atrair jovens para os grupos. Permite-nos perceber sobre que jovens devemos actuar e como actuar.Permite-nos saber como encaixar dentro da estrutura social dos jovens de forma a transformá-la.

Volto por fim à crise de vocações. Lançar questões como a que se lança aqui no CJovem é um exercício interessante e óptimo, esperando eu que haja adesão em termos de respostas. Mas se as respostas forem analisadas individualmente e a sociedade entendida como uma mera soma de indivíduos, esta reflexão será claramente limitada. O que será necessário fazer, de seguida, será elaborar uma espécie de mapa que permita compreender, não só as motivações (ou falta delas) dos jovens para o sacerdócio mas também entender a forma como essas motivações se interligam com a realidade social e de que forma a Igreja se deve posicionar nesse plano muito mais vasto. Uma pista: Se pensarmos ao nível social, não observamos imediatamente que tudo o que a vida consagrada privilegia é quase exactamente o contrário que a nossa sociedade exalta?

Uma última palavra para o JMC em particular. Onde ficou exactamente aquela história do "livrinho" Olhares? Eu bem sei que houve uma reunião nacional há pouco tempo onde se falou sobre o futuro do JMC mas, pronto, parece-me pouco. Como não pude participar nessa reunião, podem entender este texto como uma primeira parte da minha opinião sobre o assunto.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Degradação do Ensino Superior?

Milhares de alunos acabam por esta altura o secundário, e dentro de tempos vão estar a fazer as suas inscrições nas instituições de Ensino Superior... Outros tantos terminam também este ano as suas licenciaturas, mestrados e ect.

Num post publicado aqui lê-se...


- «Devido à irresponsabilidade dos governos, ao populismo dos parlamentares e à cobardia dos docentes, a universidade degradou-se para além do razoável»


- «o artigo 12.º, da Lei de Bases do Sistema Educativo estabelece expressamente queo acesso a cada curso do ensino superior deve ter em conta as necessidades de quadros qualificados e a elevação do nível educativo, cultural e científico do País, podendo ainda ser condicionado pela necessidade de garantir a qualidade do ensino”.»


- «o acesso ao ensino superior passou a poder ser feito através do facilitismo das Novas Oportunidades ou Provas de Acesso para maiores de 23 anos para evitar fechar as portas a instituições de ensino superior de qualidade mais do que duvidosa.»
- «desde 2009 já desapareceram cerca de 1200 cursos. E agora estamos a fazer a análise dos restantes»


- «A este fenómeno de brutal desregramento na criação de cursos superiores deu o actual presidente da A3ES o nome de síndroma dos galinheiros, em entrevista ao Expresso, atrás citada, com o seguinte e jocoso argumento: “Quando se fez o primeiro aviário e se viu que dava dinheiro, toda a gente se pôs a fazer o mesmo. Depois foram as minhocas para estrume e os kiwis. No ensino superior aconteceu o mesmo. Quase todos os politécnicos têm uma escola superior agrária e agora não há agricultura. Há 14 ou 15 mil alunos nas escolas de enfermagem e que não sabem o que vão fazer. Existem 500 cursos de formação de professores com 28 mil estudantes lá dentro…É irracional. Não há uma estratégia de médio e longo prazo. E há muitas áreas onde a formação é de péssima qualidade e centenas de currículos de professores perfeitamente miseráveis”.»


- «o espectro do desemprego entre licenciados espanhóis levou a que o periódico “El País” (1989) os tivesse chamado, com propriedade, “desempregados de luxo”.»
- «como é do domínio público, a qualidade do nosso ensino superior tem osacilado, de há vários anos para cá, de um extremo ao outro com estabelecimentos de ensino de elevadíssima qualidade e outros que não passam de uma espécie de “liceus superiores”, »
- «“Onde antes havia uma pastelaria ou uma pequena mercearia, hoje tende a haver uma universidade ou uma escola superior, onde ontem se compravam pastéis de nata e garrafas de groselha, hoje conseguem-se licenciaturas e mestrados e encomendam-se doutoramentos”»
- «“com critérios mais apertados fechavam metade dos cursos”.»


-«“a ideia de democratizar o ensino superior pela via da banalização do acesso e pela crescente degradação da sua qualidade não é somente um crime contra a própria ideia de ensino superior, é também politicamente desonesta”.»


Confere?

sexta-feira, 3 de junho de 2011

É este mesmo o programa que vai a votos...

Outra análise, desta vez, do Daniel Oliveira. Vale a pena ler, porque acho que muitas pessoas ainda não entenderam o que está realmente em questão...http://www.blogger.com/img/blank.gif