terça-feira, 27 de dezembro de 2011
José deixa uma flor no metro todos os dias em nome do amor
«Há mais de dez meses que, todos os dias, uma flor viaja clandestinamente no metro de Lisboa. José propôs-se a espalhar o amor pela capital durante um ano, com flores e poesia para quem as quiser apanhar. Não falhou um único dia. E já obteve resposta.»
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Coca Cola: Há razões para acreditar num mundo melhor
«É irónico ser um ex-libris do capitalismo a fazer um vídeo destes, mas a Coca Cola fez um vídeo realmente bem conseguido,...»
terça-feira, 29 de novembro de 2011
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Em tempo de fados...
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Afegã violada tem de casar-se com o agressor para sair da prisão
(...)
Depois da violação não contou a ninguém o que se tinha passado – sabendo que não seria ajudada – mas depressa a verdade veio à tona: estava grávida.
Acabou por ser julgada por adultério e condenada a 12 anos de prisão. É lá que está actualmente, com a sua filha. Cumprem pena em conjunto.
Para sair da prisão, só tem uma solução: casar-se com o seu agressor. A única forma de uma mulher afegã ultrapassar a desonra de ter sido violada, ou de ter incorrido em adultério, é casar-se com o seu atacante.
(...)
A jovem diz que na sua decisão pesa o futuro da filha. Só assim poderão permanecer juntas e em liberdade.
Mas - adianta a CNN - a escolha de Gulnaz não a livra de perigo. A família do atacante ou mesmo a sua própria família poderão querer matar a jovem por ter desonrado o nome familiar. É muito provável que, mal ponha pé fora da prisão, Gulnaz corra perigo de vida.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
sábado, 19 de novembro de 2011
O SNS "é bom, é necessário e eu devo-lhe a vida"
Criado há 32 anos, antes toda a assistência médica era assegurada pelas famílias, pelas instituições privadas ou pelos serviços médico-sociais da Providência. Para o escritor, político e candidato às eleições presidenciais de 2006 e 2011, o SNS "é bom, é necessário e eu devo-lhe a vida".
O SNS abrange todas as instituições e e todos os serviços oficiais de saúde dependentes do Ministério da Saúde. Na opinião de Manuel Alegre, "o povo português não pode passar sem o seu Serviço Nacional de Saúde".
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Com certeza que quem já abriu hoje a página do Google reparou na brilhante imagem que hoje lhe dá cara.
Pois é: Marie Curie, a brilhante cientista polaca e a primeira individualidade a ser galardoada com 2 prémios Nobel: o primeiro foi o Nobel da Física (em 1903, dividido com Pierre Curie – seu marido – e Becquerel) pelas suas descobertas na área da radioactividade; o segundo foi o Nobel da Química (em 1911) pela descoberta dos elementos químicos Rádio e Polónio.
Assinala-se hoje a data do seu nascimento e, tendo eu o “bichinho” da radioactividade, não podia deixar a data em branco… :)
sábado, 5 de novembro de 2011
"Repetem-se erros que conduziram Hitler ao poder"
domingo, 30 de outubro de 2011
Como começar?
No último texto abordei algumas questões práticas sobre a actuação na sociedade, mais especificamente da importância da fase de aprendizagem e de pesquisa que pode permitir uma verdadeira actuação prática na sociedade. Hoje falarei sobre formas concretas de levar avante essa aprendizagem.
A principal dificuldade surge no início. Entrar num tema novo implica algumas dificuldades, entre as quais, o desconhecimento inicial, que dificulta a apreensão de certos pontos essenciais para a compreensão dos textos. Certos conceitos são também dificeis de conhecer numa fase inicial. Além disso, antes de entender os temas é difícil deles obter prazer, o prazer e o gosto de aprender.
Penso que há que começar por textos pequenos. Artigos de jornal, leitura de blogues de referência, etc... Textos pequenos facilitam a captação dos temas e ajudam a que não se caia no desânimo. Os conceitos desconhecidos são facilmente procurados e encontrados na internet. Nesta primeira fase fontes como a wikipédia são aceitáveis e importantes.
Numa fase seguinte, a leitura de livros ou capítulos de livros com explicações simples sobre os assuntos ajuda a aprofundar os temas. O passo seguinte consiste na leitura de manuais introdutórios sobre os temas.
Trata-se, até aqui, de uma espécie de curso de estudos gerais. A partir desta fase surge a necessidade de escolher alguns temas mais específicos e continuar a trabalhar mais vincadamente nesses temas.
Para facilitar a primeira fase comecei a colocar diversas ligações na barra lateral deste blogue. Até agora estas ligações estão centradas nos dois temas essenciais onde me tenho debruçado: economia política e teologia. O trabalho que pode ser levado a cabo dentro de um grupo permite um crescimento exponencial de conhecimentos e assim, de partilha desses mesmos conhecimentos. Assim, a ideia será de que os restantes membros deste blogue vão colocando ligações para outros artigos. Talvez uma lista para artigos mais complexos de revistas científicas, ligações para blogues que deviam ser de acompanhamento obrigatório. A partilha de informações e o debate são a grande vantagem de se fazer o trabalho em grupo.
De seguida, a leitura de livros deve ser feita também num espírito de partilha. Em grupo seria possível criar um sistema de partilha de livros. Em grupo, a existência de pessoas com conhecimentos complementares permite também que o debate e a partilha possam trazer livros relevantes acompanhados de uma explicação de um dos membros do grupo especialista na matéria.
Com isto nestes termos, o que me dizem? Vamos a isto?
sábado, 29 de outubro de 2011
E a montanha pariu...
Vá, não digo que para a grande maioria das pessoas o que Anselmo Borges escreve aqui não seja um segredo. É-o de certeza. Mas os reparos feitos à obra de JRS põem as coisas no lugar, inclusivé o próprio JRS que andava já demasiado armado em "carapau de corrida".
Bem, mais um artigo de Anselmo Borges que vai aqui para a barra lateral...
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Um Plano Estratégico de Actuação
Duas premissas: concordamos todos que as coisas estão más. Analisamos a sociedade à primeira vista e concordamos com a existência de uma série de problemas, por exemplo, egoísmo ou individualismo, ou mais concretamente, comportamentos de risco como o consumo de drogas, ou a um nível mais geral, a crise económica, a pobreza ou as desigualdades. Em segundo lugar, e em resultado do meu texto anterior, concordamos que é nossa missão actuar sobre a realidade que observamos.
Interessa agora compreender e definir formas de actuar. Antes disso, importa lembrar que a regra geral da sociedade é contrária à ideia de actuação já que a actuação é, por definição, pôr em causa o status quo, o estado das coisas. É-o por motivos políticos e ideológicos. Na sociedade não existem acasos mas sim dinâmicas, instituições e estruturas.
Foi talvez essa a principal descoberta que fiz ao longo dos anos que passei a estudar Economia. Os problemas que vemos na sociedade são resultado de muitos anos de doutrinação. Os modelos económicos que regem a nossa política partem do princípio de que todos são egoístas; A felicidade do indivíduo está no consumo; As empresas devem procurar apenas o lucro; etc…
A nossa sociedade é resultado de escolhas políticas que, na sua maioria, surgiram de uma teoria e filosofia política nascida no séc. XVIII chamada liberalismo e que é a base de grande parte das teorias que fundamentam tudo o que nos rodeia, seja em termos económicos, jurídicos, políticos, etc… ou seja, tudo o que tem a ver connosco e com a sociedade que nos envolve. Mas não está tudo baseado no liberalismo. Em Portugal tivemos uma ditadura conservadora que durou quase meio século e à qual devemos grande parte das inércias e costumes da sociedade portuguesa. E além disso ainda temos de ter em consideração outras teorias que condicionaram opções políticas e o conjunto da sociedade ao longo dos últimos séculos, por exemplo, o socialismo.
A primeira regra da actuação é então a de conhecer o que está por detrás da sociedade onde vivemos. Como se desenvolveu, quais os passos que deu até se tornar aquilo que é hoje. Quais as suas bases e os seus fundamentos, porque acontecem as coisas de uma maneira e não de outra. Isto exige conhecer história mas não só, também importa conhecer teoria e sociologia política, alguma filosofia e alguma economia. As coisas que descobrimos com esse estudo colocam-nos a um nível privilegiado de conhecimento da sociedade. Desta investigação vão surgindo novas prioridades como a teologia (será importante saber de teologia para se compreender a sociedade?), talvez até a física mas com certeza, saber de filosofia das ciências e alguma biologia também não faz mal nenhum. Estar actualizado em relação a assuntos internacionais é também importante mas funciona melhor se já tivermos um conhecimento sério sobre história.
Por isso aqui fica o primeiro ponto do meu Plano Estratégico de Actuação: conhecer os fundamentos. O próximo será mais prático porque teoria sem prática é maneta. Mas prática sem teoria é apenas uma mão…
terça-feira, 25 de outubro de 2011
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Mais três óptimos artigos sobre a praxe
Violência e Praxe
"barbárie consentida, a boçalidade celebrada e a estupidez oficializada"
A praxe integra
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Praxis
"Todos os anos, os estudantes sujeitam-se a rituais de iniciação ao ingressarem nas universidades. As praxes, assentes em tradições e obedecendo a uma hierarquia estruturada, ganharam uma nova vitalidade na última década. Reúnem cada vez mais adeptos, que exultam com linguagem sexual explícita, jogos de poder e diversas formas de humilhação."
Um filme de Bruno Cabral que estreia esta sexta-feira no DocLisboa 2011.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Do porquê de certas coisas...
Somos animais fantásticos. Sabemos e conseguimos habilmente distinguir o bem do mal, o certo do errado. Conseguimos ter opiniões mais ou menos formadas. Apenas nos falta, por vezes, saber fazer as ligações entre as coisas.
Passamos por tempos onde tudo é líquido, onde tudo se dissolve no ar, onde tudo o que dantes era sólido, insolúvel, dado como certo, passou a estar em causa, a ser temorizável, a depender de gostos. Mudam-se os tempos e nós adaptamo-nos, sem razão ou justificação nenhuma. A sociedade questiona a existência de Deus e pretende ver provas dessa existência. No entanto, não somos assim tão curiosos em relação a outras coisas. Aceitamos que não nos consigam explicar o que existe para lá do universo, aceitamos acriticamente, de nós próprios, as nossas noções de bem e de mal. Aceitamos que só acreditamos em Deus porque foi assim que nos ensinaram mas não nos lembramos que talvez só achemos que roubar é errado porque também foi assim que nos ensinaram. Se pensarmos bem, somos apenas aquilo que nos ensinaram, não só em relação a Deus mas, em relação a tudo o que somos e o que seguimos. É difícil movermo-nos num mundo onde não existem certezas absolutas.
Na sociedade actual ensinaram-nos outra. Que o importante é centrarmo-nos na nossa própria felicidade. Vemos que isso tem problemas porque algo na nossa ideia de bem e mal nos diz que pensar só na própria felicidade é errado. Que estamos a ser egoístas e não deveríamos. Mas não também não temos certezas. Não conseguimos manter uma ideia alternativa porque não temos nada sólido para servir de alicerce.
O mundo está cheio de pessoas como nós. Que anseiam por qualquer coisa sem saberem pelo que hão-de ansear, que pensam que o mundo está mal mas não conseguem concretizar o que pensam.
Vivemos presos neste dilema. É uma luta onde não sabemos porque lutamos, por quê lutamos e contra quê lutamos. Uma luta assim é apenas inactividade. Aliás, como é que se convence alguém a lutar? Neste quadro, como é que se convence alguém a pôr em causa o que existe? Não temos bem uma alternativa ou se a temos, não temos a certeza se seja a correcta. Queríamos ter uma ideia com um selo a dizer “comprovado cientificamente”. Algo que dissesse que descobrimos o segredo que é 100% certo. Porque devemos ter uma ideologia e um ideal? Porque devemos defender algo que não temos a certeza absoluta? Porque devemos por em causa o que existe?
Mais especificamente, porque devemos interessar-nos por economia? E por política? E por sociologia? Por História, Física ou Filosofia? Porque devemos debater, ler, trocar ideias? Porque devemos escolher uma teoria, ter uma opinião, seguir uma ideologia? Qual é o interesse disso?
Estas são as nossas perguntas e a melhor resposta que lhes posso dar é que, verdadeiramente, não existe uma resposta mas, existem algumas ideias a ter em conta. Primeiro, da mesma maneira que não existe nenhuma verdade absoluta que nos faça optar por este caminho, também não existe nada que nos faça optar pelo caminho da sociedade, do imobilismo e do egoísmo. Segundo, da mesma forma como o bem e o mal não têm nenhuma prova absoluta mas nos servem em todos os âmbitos da nossa vida, temos e tomar opções, ou seja, tenhamos certeza ou não da bondade ou maldade das atitudes, somos obrigados a tomá-las em toda a nossa vida. Não se esqueçam que não tomar uma atitude é, por si só, uma atitude. Por isso, temos de tomar opções também em relação à luta, ideologia, etc… Não votar é também uma forma de fazer política e nós somos obrigados a escolher se é essa que queremos. Não ler é uma forma de viver com o conhecimento. Não sabemos se devemos ler ou não, mas sabemos que o que quer que optemos, é uma escolha e uma atitude e uma acção nossa. Não sabemos se Deus existe mas também somos nós a escolher se vivemos com a crença na sua existência ou não.
A questão é que não temos verdades absolutas mas temos de viver à mesma, optar à mesma, escolher à mesma. Para isso ligamo-nos ao que achamos mais verdadeiro, mais útil, que mais nos preenche.
Com isto tudo parece que estamos na mesma de quando começámos, mas não. O que deve ficar deste texto é que temos de nos ligar a algo. E se nos ligamos à ideia de que o mundo não está bom, de que a pobreza é uma coisa má, de que a justiça tem de ser alcançada, temos de nos interessar por política, por economia e por história; e só transformamos o mundo se debatermos, se lermos e se lutarmos.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Baladas (5)
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Jesús 2011 en Oporto: Un diálogo abierto, creativo, esperanzado
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Baladas (4)
Baladas (3)
terça-feira, 11 de outubro de 2011
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
Baladas
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
E outras coisas sobre a "geração à rasca"...
Coisas...
IgNobel 2011
Ver restante notícia AQUI
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Só mais uma, só mais uma...
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Praxes: socialização ou perversão?
Mais um ano lectivo a começar e, novamente, a questão da praxe vem à baila...
Este texto já tem um ano, mas vale sempre a pena reler....
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Só mais um bocadinho de Tokio Hotel...
Segunda Carta às Esquerdas...
Guerra das estrelas (4)
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Musical fight...(3)
Isto contra aquilo que eu chamaria, um good romance: Mozart, concerto 20 em ré, K466, segundo movimento, o romance. Interpretado por Friedrich Gulda com a Munich Philharmonic Orchestra.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Musical fight...(2)
Musical fight...
Para me poderem ajudar nesta tarefa vou por nos próximos dias um conjunto de posts com músicas retiradas do youtube que expressam possíveis dicotomias musicais. Comentem o que acham diferente em cada par de músicas para podermos estabelecer uma ligação com a política em cada uma delas.
Para começar, o êxito Baby do artista do momento, Justin Bieber, com 625078063 visualizações no youtube, contra uma música metal chamada Another Day da principal banda de Metal Progressivo mundial, os Dream Theater, com um total de 847124 visualizações.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Caridade ou igualdade
Por João Cardoso Rosas in Diário Económico
As duas palavras principais do título indicam duas formas radicalmente diferentes de encarar as funções sociais do Estado.
Pela primeira vez na democracia portuguesa, essas duas visões opostas estão plasmadas na teoria e nas propostas concretas das duas grandes facções políticas: o Governo do PSD/CDS e a oposição do PS.
O novo PSD, anti-social-democrata e próximo do CDS, vê o Estado como supletivo em relação às organizações caritativas da sociedade civil - que, em Portugal, dependem em grande parte do dinheiro dos contribuintes... - e concebe a actuação do Estado à imagem de uma organização de beneficência. Isso é notório no Programa de Emergência Social (PES), mas também no "passe social +", nas tarifas sociais de electricidade e gás, etc. Há características comuns a todos estes programas e medidas: só abrangem os muito pobres, obrigam-nos a fazer prova da sua pobreza e criam, sobretudo no caso do PES, dependências pessoais e não institucionais (os pobres terão de agradecer pessoalmente, como dantes faziam, ao sr. Dr., ao sr. Provedor, ao sr. Padre).
Curiosamente, o ministro dos assuntos sociais não só não usa a palavra "igualdade", como deixou também de usar o termo "justiça". Agora fala apenas de "ética social" o que, no significado usualmente dado à expressão, não é mais do que uma versão laicizada da caridade.
O novo PS, o partido social-democrata de A. J. Seguro, tem-se demarcado com clareza da visão do Governo. Em termos conceptuais, tem criticado o assistencialismo das políticas sociais do Governo, considerando-as, como disse o próprio secretário-geral em Braga, um "retrocesso civilizacional". A linguagem do PS é a dos direitos sociais, não a da assistência aos mais pobres, ou da "ética social".
Mas aquilo que mais distingue o novo discurso do PS é o acento tónico nas ideias de justiça e igualdade. A referência à igualdade é, segundo me parece, o ponto decisivo. Num contexto em que o Estado não tem capacidade para desenvolver, ou sequer manter, alguns dos seus mecanismos redistributivos, as políticas sociais têm de ter maior incidência na fiscalidade do que na segurança social. Ou seja, é pela via da fiscalidade que o Estado pode ser mais igualitário e não meramente caritativo.
Em coerência, o PS insurge-se agora contra a punição fiscal das classes médias, sobretudo da classe média-baixa, e propõe alternativas: impostos sobre o capital, sobre empresas com lucros elevados (como na área das utilidades), etc. No entanto, para que o PS seja coerente com a sua visão social-democrata, falta-lhe ainda propor o mais justo e justificado dos impostos: o imposto sobre heranças e doações de que falou o Presidente da República.
A habituação e a qualidade da mensagem publicitária
Lembrei-me do tema porque um leitor, a respeito do artigo da semana passada sobre o "Livro da Marca" e a campanha da EDP, escreveu que, embora não apreciando a nova imagem da empresa, já se ia habituando; por isso, já a achava menos mal.
É esse o processo da habituação. Julgo poder transpor para a publicidade, numa aplicação minimalista, um conceito muito importante da sociologia a propósito das nossas práticas sociais. Émile Durkheim, na mudança para o século XX, foi buscar ao vocabulário escolástico o termo latino "habitus" para designar o conjunto das aprendizagens adquirida pela criança no decurso da sua educação. Outro sociólogo, Norbert Elias, usou o mesmo termo para evocar o tipo de personalidade originado no processo civilizacional do Ocidente. Mas foi um terceiro sociólogo, Pierre Bourdieu, quem refez o conceito para lhe atribuir um papel central na formação e consolidação das práticas sociais.
Para Bourdieu, o "habitus" é o conjunto de disposições que inculcamos e interiorizamos a ponto de tendermos a reproduzi-las, adaptando-as às condições em que agimos no quotidiano. A inculcação - o modo como se faz com que qualquer coisa entre no espírito de alguém de forma duradoura - é também vista em sociologia como o próprio processo de constituição desses "habitus" ou atitudes sociais adquiridas. Já encontramos aqui uma pista para entender a publicidade na sua faceta social. Através dos "habitus", interiorizamos ao longo da vida ideias e práticas que nos são exteriores: interiorizamos a exterioridade. É também o que nos sucede com a publicidade.
Falta referir uma terceira dimensão do "habitus": aquilo que é inculcado e passa a ser parte do espírito transforma-se depois em percepções, pensamentos e acções próprias de uma determinada cultura. Pomos em prática o que não era nosso, mas que fomos absorvendo do exterior. Ora, isso também é uma intenção primordial da publicidade: depois de inculcada a imagem ou a mensagem, convém que a transformemos em impulso de compra.
Na publicidade, o processo de habituação obtém-se pela repetição da mensagem. Só vendo, ouvindo e lendo muitas vezes os anúncios ficamos predispostos a aceitar slogans, logótipos, narrativas, produtos, serviços e marcas que antes desconhecíamos ou de que não gostávamos, como sucedeu ao leitor cuja mensagem suscitou este artigo.
A repetição inculca. Todos sabemos isso há muito, mas convém lembrar o "óbvio" de vez em quanto, porque as verdades mais importantes escondem-se muitas vezes por trás das coisas "óbvias" a que não ligamos nenhuma - por serem óbvias!
No caso dos "habitus" inculcados nas pessoas por meio de uma actividade comercial sistemática, persistente e concebida profissionalmente - a publicidade - convém recordar aqui outra verdade "óbvia": como a repetição é essencial para alcançar o objectivo, as campanhas devem ser, se possível (isto é, se houver orçamento), absolutamente esmagadoras, presentes diversas vezes ao dia em todos os media de comunicação social e nas ruas. Isso significa que só as grandes empresas, como a EDP, conseguem inculcar as suas mensagens e imagens com razoável eficácia, através de grandes campanhas.
E desta reflexão resulta uma terceira realidade "óbvia": é que a repetição esmagadora consegue a inculcação em muita gente, quer a campanha seja boa, quer seja má. O que também significa que publicitários com grandes orçamentos têm sucesso com muito mais facilidade do que publicitários trabalhando com pequenos orçamentos, mesmo que as campanhas destes sejam de melhor qualidade.