segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Do porquê de certas coisas...

Somos animais fantásticos. Sabemos e conseguimos habilmente distinguir o bem do mal, o certo do errado. Conseguimos ter opiniões mais ou menos formadas. Apenas nos falta, por vezes, saber fazer as ligações entre as coisas.

Passamos por tempos onde tudo é líquido, onde tudo se dissolve no ar, onde tudo o que dantes era sólido, insolúvel, dado como certo, passou a estar em causa, a ser temorizável, a depender de gostos. Mudam-se os tempos e nós adaptamo-nos, sem razão ou justificação nenhuma. A sociedade questiona a existência de Deus e pretende ver provas dessa existência. No entanto, não somos assim tão curiosos em relação a outras coisas. Aceitamos que não nos consigam explicar o que existe para lá do universo, aceitamos acriticamente, de nós próprios, as nossas noções de bem e de mal. Aceitamos que só acreditamos em Deus porque foi assim que nos ensinaram mas não nos lembramos que talvez só achemos que roubar é errado porque também foi assim que nos ensinaram. Se pensarmos bem, somos apenas aquilo que nos ensinaram, não só em relação a Deus mas, em relação a tudo o que somos e o que seguimos. É difícil movermo-nos num mundo onde não existem certezas absolutas.

Na sociedade actual ensinaram-nos outra. Que o importante é centrarmo-nos na nossa própria felicidade. Vemos que isso tem problemas porque algo na nossa ideia de bem e mal nos diz que pensar só na própria felicidade é errado. Que estamos a ser egoístas e não deveríamos. Mas não também não temos certezas. Não conseguimos manter uma ideia alternativa porque não temos nada sólido para servir de alicerce.

O mundo está cheio de pessoas como nós. Que anseiam por qualquer coisa sem saberem pelo que hão-de ansear, que pensam que o mundo está mal mas não conseguem concretizar o que pensam.

Vivemos presos neste dilema. É uma luta onde não sabemos porque lutamos, por quê lutamos e contra quê lutamos. Uma luta assim é apenas inactividade. Aliás, como é que se convence alguém a lutar? Neste quadro, como é que se convence alguém a pôr em causa o que existe? Não temos bem uma alternativa ou se a temos, não temos a certeza se seja a correcta. Queríamos ter uma ideia com um selo a dizer “comprovado cientificamente”. Algo que dissesse que descobrimos o segredo que é 100% certo. Porque devemos ter uma ideologia e um ideal? Porque devemos defender algo que não temos a certeza absoluta? Porque devemos por em causa o que existe?

Mais especificamente, porque devemos interessar-nos por economia? E por política? E por sociologia? Por História, Física ou Filosofia? Porque devemos debater, ler, trocar ideias? Porque devemos escolher uma teoria, ter uma opinião, seguir uma ideologia? Qual é o interesse disso?

Estas são as nossas perguntas e a melhor resposta que lhes posso dar é que, verdadeiramente, não existe uma resposta mas, existem algumas ideias a ter em conta. Primeiro, da mesma maneira que não existe nenhuma verdade absoluta que nos faça optar por este caminho, também não existe nada que nos faça optar pelo caminho da sociedade, do imobilismo e do egoísmo. Segundo, da mesma forma como o bem e o mal não têm nenhuma prova absoluta mas nos servem em todos os âmbitos da nossa vida, temos e tomar opções, ou seja, tenhamos certeza ou não da bondade ou maldade das atitudes, somos obrigados a tomá-las em toda a nossa vida. Não se esqueçam que não tomar uma atitude é, por si só, uma atitude. Por isso, temos de tomar opções também em relação à luta, ideologia, etc… Não votar é também uma forma de fazer política e nós somos obrigados a escolher se é essa que queremos. Não ler é uma forma de viver com o conhecimento. Não sabemos se devemos ler ou não, mas sabemos que o que quer que optemos, é uma escolha e uma atitude e uma acção nossa. Não sabemos se Deus existe mas também somos nós a escolher se vivemos com a crença na sua existência ou não.

A questão é que não temos verdades absolutas mas temos de viver à mesma, optar à mesma, escolher à mesma. Para isso ligamo-nos ao que achamos mais verdadeiro, mais útil, que mais nos preenche.

Com isto tudo parece que estamos na mesma de quando começámos, mas não. O que deve ficar deste texto é que temos de nos ligar a algo. E se nos ligamos à ideia de que o mundo não está bom, de que a pobreza é uma coisa má, de que a justiça tem de ser alcançada, temos de nos interessar por política, por economia e por história; e só transformamos o mundo se debatermos, se lermos e se lutarmos.

Sem comentários:

Enviar um comentário