segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Poema da revolta

O que pode o humano coração frente aos farelos de pão
em que a criança busca esperança?
O que pode,
pergunto, sozinho no pesadelo real,
o que pode o humano coração
frente à avalanche de cacos de vidro,
de mísseis,
de inocências povoadas pela barbárie,
quando o ódio é uma receita
servida no quotidiano e com a nossa permissão?

Onde vamos assim,
zumbis sem causa,
por essa rua alienada de si mesmo,
que passa esquecendo o que nunca soube ver?
Onde vamos na calada da noite,
onde os amigos estão sepultados por mãos de metal,
lógica borrada pela lógica pífia
das notas de dólares
e as mil transações mundiais que esquecem o mundo (...)

Meus olhos são pequenos demais pra se dar conta de tanta dor.
Muito pequenos!
Sou tão pequeno,
tão pequeno,
que estas letras têm ar de inutilidade,
descaso,
até ofensa,
ofensa pequeno-burguesa
de estar a falar de um sofrimento que jamais saberei do que se trata.
Ou saberia?
Terrível angústia
de um homem sem destino
diante do destino inexorável.

Dispo-me de qualquer carga fraternal.
Não é solidarismos que ofereço.
Ofereço meu desespero e o ódio.
Ódio de nós mesmos,
que mal percebemos o bicho-homem que se mistura com os dejetos.
Ódio da pátria amada,
amores de carvão
que queimam alguma coisa dentro de cada um.

(...)
Poesia incendiária,
vem falar da etiqueta na tua calça:
"e tu chamas isso de evolução".

Volmir M. G

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