sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"O Iraque é um país de muitas viúvas e pouco Estado"

"Ninguém sabe quantas viúvas há no Iraque. São muitas e poucas recebem ajuda do Governo."

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"Não é preciso saber quantas são as viúvas do Iraque para saber que este é um país de viúvas. Há quatro anos, no pico da violência sectária, 90 a 100 mulheres enviuvavam a cada dia. Entre 2005 e 2008, quando o Iraque parecia uma bomba humana, muitas mulheres fizeram-se explodir em atentados, como nunca antes em lugar nenhum. Dezenas eram viúvas."

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"Hoje há entre um e três milhões de viúvas. Num país de 29 milhões, em que 40 por cento tem menos de 14 anos, basta saber isso para perceber que há demasiadas mulheres sozinhas com demasiados filhos para alimentar. Nas contas de Fatimah, "as mulheres são 60 por cento da população e metade são viúvas". Algumas "perderam o marido na guerra com o Irão, outras na guerra de 1991 e na revolta xiita que se seguiu, muitas nas explosões e assassínios".

A partir de um inquérito feito há dois anos, a Cruz Vermelha concluiu que entre as mulheres chefes de família em situação vulnerável só 10 por cento recebia pensão de viuvez, o que se explica pela burocracia, pela corrupção e por falta de fundos. Há um ano, a ajuda estatal chegava a 120 mil, sortudas, mas pouco: 70 mil dinares (45 euros) por mês mais 14 mil por filho não chega. Para a Cruz Vermelha, como nos explicou Hind, responsável da subdelegação de Bassorá para o programa Mulheres em Guerra, a linha de pobreza traça-se abaixo dos 230 mil dinares por mês.

Bassorá, capital do Sul desde que o Iraque é um país, já viu melhores dias. Falta peixe no Shat-al-Arab. o rio que liga a cidade ao Golfo Pérsico. Falta água. Falta trabalho. Falta electricidade. Falta tudo. Mas, como no resto do país, sobram viúvas e órfãos e há mulheres e miúdos a pedir na rua."

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"Há viúvas que recebem alguns dinares do Governo e outras que não recebem nada. Algumas são prostitutas ou então aceitaram casar com um cunhado ou celebrar um contrato de casamento temporário (tradição xiita) que pode durar horas ou meses com os homens que controlam a distribuição dos fundos de ajuda."

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