É impossível não pensar no assunto do momento já que por ele somos bombardeados todos os dias a quase todas as horas.
Agora que estava a pensar em escrever algo sobre o assunto descobri um texto que exprime tão bem aquilo que penso que nem me vou dar ao trabalho de escrever mais nada.
Aqui fica:
«da psiquiatria televisiva e outras perversões
os últimos dias têm sido marcados por um intenso debate em torno do homicídio de carlos castro. a tragédia que se abateu sobre aqueles dois homens tem exposto algumas das faces mais negras daqueles com quem convivemos quotidianamente. sobre o caso não escreverei uma única palavra. detenho-me apenas nas reacções que temos visto e lido um pouco por todo o lado.
em primeiro lugar, a tentação do diagnóstico psiquiátrico. elaborar hipóteses de diagnóstico sobre um caso concreto com base em informações noticiosas é um autêntico disparate. as hipóteses de diagnóstico constroem-se a partir da história clínica. aquilo que ouvimos reflecte, somente, a opinião dos psiquiatras que falaram.
em segundo, o pecado da generalização. ao longo dos últimos dias, técnicos disto e técnicos daquilo desfilaram pela praça pública afirmando uma coisa e o seu contrário como se tudo fosse generalizável. um autêntico absurdo que pretende encaixar cada indivíduo na gaveta que dá mais jeito para a conclusão desejada.
em terceiro, a decadência moral patente na repetida desculpabilização do homicídio que tem sido promovida e que é o traço mais visível da homofobia internalizada que subjaz na sociedade portuguesa. a missa-comício de hoje é o exemplo mais caricato: alguém acredita que a homicida de um idoso de 65 anos suscitaria a mesma compaixão cristã?
nenhum daqueles dois homens merecia o sucedido porque ninguém merece um desfecho como aquele. por uma questão de respeito e de decência deviam calar-se todos. todos.»
Pedro Morgado, aqui.
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