sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Leituras...

Luis Sepúlveda vai-se destacando no topo dos meus autores preferidos.

O que gosto em Luis Sepúlveda dava em si mesmo um livro. Um livro de Sepúlveda, o que é redundante. É difícil de explicar. Não se trata de nenhum detalhe particular: não é o mistério, não é a ciência, não são os factos históricos, não é o romance, nada disto está verdadeiramente presente nos livros de Sepúlveda. Mas está uma forma de encarar a vida. Não um exemplo mas um mostra daquilo que a vida pode ser, do que pode ter sido e daquilo em que se pode tornar.

Ao fim de alguns livros, pode parecer que tudo é demasiado monótono e igual: invariavelmente a história de algum (ou vários) ex-revolucionário sul-americano que foi obrigado ao exílio e a uma vida de fuga e medo até que, no fim das ditaduras que o obrigou a fugir, dá por si como um homem velho e para quem as coisas parecem já fazer pouco sentido.

Tratam-se de narrativas de vidas sonhadas. Sonhadas pelos próprios aventureiros, espiões, especialistas todo o tipo de técnicas de guerrilha e de contra-informação. Pessoas que viveram as suas vidas ousando e sonhando algo que a vida acaba por lhes não dar. No entanto, a velhice é sempre resignada. Os sonhos de outrora dão lugar a grandes barrigadas de frango, a trabalhos em bares de alterne, a vidas esquecidas em lugares recônditos do planeta, pensando se vale a pena, ou até com medo enorme do choque de, voltar a casa.

Se calhar, o encanto de tais histórias esteja no facto de, todos nós termos um pouco de ex-revolucionário sul-americano. Todos nós somos, ou tornamo-nos mais tarde ou mais cedo, pessoas de sonhos acabados, frios e insensíveis, ex-poetas. E não há nada mais triste do que alguém que já foi poeta e já não é.

Mas desengane-se quem achar que Sepúlveda dá a resposta ou a força para sair desse espaço curto em que estamos presos. Não serve para isso. Serve antes para nos reconhecermos e para nos ambientarmos e talvez, habituarmos a esse cenário fatalista. Mas há uma parte boa – o encanto natural e sincero desse fatalismo. A surpresa de que o prazer verdadeiro não precisa de ter um significado mais apenas um coração aberto. É o prazer de ser apenas porque se é. Sem amarras. Sem obsessões. Diria eu, é o segredo para uma morte feliz.

É isso que é Sepúlveda, e muito mais. Muito mais como também o são as nossas vidas. Significa isto que devemos ficar quietos e resignados? Não, porque para se ser ex-revolucionário também é necessário ter-se sido revolucionário. A lição é a de que a derrota não é o fim. Ela própria tem um significado e um valor. E citando agora Kalil Gibran:

“Derrota. Minha derrota. Minha solidão. Meu isolamento.
És para mim mais valiosa que um milhar de triunfos. És mais doce para o meu coração do que toda a glória do mundo. (…) Tu e eu vamos rir juntos na tempestade. Juntos cavaremos sepulturas para todos aqueles que morrem em nós. E fitando o sol vamos erguer-nos com vontade indomável. E seremos terríveis.”

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