quarta-feira, 27 de outubro de 2010
De Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!
Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anónimo e frio,
A vida vivida em vão.
A ‘sp’rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha ‘s’prança,
Rola mais que o meu desejo.
Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam — verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.
Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.
Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!
Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.
Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças —
Mortas, porque hão de morrer.
Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim —
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser — muro
Do meu deserto jardim.
Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.
O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!
Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anónimo e frio,
A vida vivida em vão.
A ‘sp’rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha ‘s’prança,
Rola mais que o meu desejo.
Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam — verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.
Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.
Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!
Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.
Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças —
Mortas, porque hão de morrer.
Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim —
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser — muro
Do meu deserto jardim.
Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.
domingo, 24 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Praxes: socializaçao ou perversão?
"Perante esta tendência inquietante, e que parece agravar-se de ano para  ano, o desafio neste domínio terá de passar por uma “refundação” dos  princípios da praxe, incutindo-lhes um novo sentido pedagógico,  conteúdos informativos e comportamentos amigáveis e acolhedores para os  recém chegados. É preciso adaptar a “tradição” às condições do presente.  Os actuais rituais da praxe estudantil não são apenas a fachada da  vincada hierarquia inscrita no próprio “código genético” da  Universidade. Eles reflectem – pelo menos nas suas modalidades mais  extremas – uma perversão de valores que perdeu autenticidade, perdeu  conteúdo e perdeu sentido. A praxe corre o risco de resvalar para  perigosos comportamentos anti-sociais (e obrigar à acção repressiva),  caso a colectividade, a começar pelo corpo estudantil, as estruturas  associativas, os grupos organizados e as instituições universitárias não  saibam travar a tempo as formas “rascas” de que a mesma se vem  revestindo nos últimos tempos."
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Questionamentos acerca de supostas contradições
Li há algum tempo na blogosfera uma discussão que podia ser um autêntico case study da sociologia e da teoria política. (Infelizmente, não me lembro onde, mas sei o fundamental da questão). 
O contexto era uma defesa dos direitos dos homossexuais que era feita, como é de esperar, por alguém de esquerda. O argumento é rápido mas nem por isso é simples: a igualdade como "valor" - talvez o principal a ter em conta por uma sociedade.
Ora, é exactamente este mesmo argumento que faz a esquerda defender também os direitos dos imigrantes, por exemplo, os imigrantes do muçulmanos ou os ciganos que estão actualmente a ser questionados em alguns países europeus.
Neste contexto, alguém levantava uma questão parecendo ter descoberto a grande raiz do mal da esquerda numa suposta contradição: lembrava esta pessoa que num qualquer país da Europa (Holanda ou Bélgica, não tenho a certeza) era perigoso assumir a homossexualidade publicamente porque os imigrantes islâmicos os perseguiam e até matavam por fanatismo religioso.
Como conciliar então a defesa dos direitos dos homossexuais e dos muçulmanos com a preservação da sua cultura se estes dois direitos chocam tão directamente um com o outro?
O contexto era uma defesa dos direitos dos homossexuais que era feita, como é de esperar, por alguém de esquerda. O argumento é rápido mas nem por isso é simples: a igualdade como "valor" - talvez o principal a ter em conta por uma sociedade.
Ora, é exactamente este mesmo argumento que faz a esquerda defender também os direitos dos imigrantes, por exemplo, os imigrantes do muçulmanos ou os ciganos que estão actualmente a ser questionados em alguns países europeus.
Neste contexto, alguém levantava uma questão parecendo ter descoberto a grande raiz do mal da esquerda numa suposta contradição: lembrava esta pessoa que num qualquer país da Europa (Holanda ou Bélgica, não tenho a certeza) era perigoso assumir a homossexualidade publicamente porque os imigrantes islâmicos os perseguiam e até matavam por fanatismo religioso.
Como conciliar então a defesa dos direitos dos homossexuais e dos muçulmanos com a preservação da sua cultura se estes dois direitos chocam tão directamente um com o outro?
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Bastam 4 acordes :)
"A música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o seu último segredo."
Oscar Wilde
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
O Sorriso de Deus...
Albino Luciani, Papa João Paulo I
N: 17/10/1912
F: 28/09/1978
Quem quiser conhecer um pouco mais sobre este extraordinário (e tantas vezes esquecido) Papa, aqui fica o link para a página na Wikipédia.
domingo, 17 de outubro de 2010
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
O polémico genérico dos Simpsons...
 Visão: O que acontece quando se convida um polémico graffiter para assinar um genérico? Prepara-se para a polémica, claro está. Banksy aproveitou a oportunidade de criar uma abertura para os Simpsons para denunciar as condições em que é feito o material de merchandising da série.
 Visão: O que acontece quando se convida um polémico graffiter para assinar um genérico? Prepara-se para a polémica, claro está. Banksy aproveitou a oportunidade de criar uma abertura para os Simpsons para denunciar as condições em que é feito o material de merchandising da série.
Este episódio (chamado MoneyBart) foi emitido no passado Domingo, dia 10, nos EUA e foi a primeira vez que um artista foi convidado para criar a sequência de abertura.
Alguns dos coméntários da caixa do PÚBLICO:
- Para mim parecia uma fábrica na China
- Foi este tipo de comédia que tornou os Simpsons grandes. Contudo, mais recentemente as piadas têm-se tornado cada vez mais imediatas e menos inteligentes. Assim, saúdo esta iniciativa da série ao convidar um artista satirico para criar a sequência de abertura e voltar a abalar os espíritos do mundo.Espero tê-los na minha televisão, pelo menos, durante mais vinte anos. J. Pifre.
- Este genérico dos "Simpsons" é escandaloso/polémico, mas a realidade satirizada/retratada não o é?
- É fabuloso o sentido de humor desta malta e a capacidade de se reinventarem para continuar a impressionar após tantos anos de emissão.Uma das melhores séries de humor de sempre.
- Bansky não é apenas um artista satírico e humorista. O humor e a sátira são apenas algumas das ferramentas que Bansky utiliza para denunciar os podres das nossas sociedades. Não se percebe porque é que jornalista não faz referencia a isso, ah, espera... se calhar não interessa.... 
- Como a realidade dói......
- Profundo.
"Mas nós somos uma revista com sorisos :-)
 Excerto do editorial da revista AULA MAGNA.
 Excerto do editorial da revista AULA MAGNA. Edição 07
PDF da revista aqui.
Todos os editoriais do início do ano lectivo falam do início do ano lectivo. É uma pena, mas nós vamos falar mesmo é do Quim Barreiros. Para quem conhece mal a nossa revista, pode parecer estranho, assim como se aparecesse um smiley no nosso editorial. :-) Mas nós somos uma revista com sorrisos. Só não somos nem queremos ser um jornal de traques engraçados e de palermices do dia-a-dia, daqueles que acham que os leitores são todos atrasados mentais e que é preciso escrever para esse nível. Na Aula Magna achamos que os nossos leitores não são atrasados mentais. Talvez seja esse o segredo do sucesso que temos tido entre os estudantes. 
terça-feira, 12 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
terça-feira, 5 de outubro de 2010
O Centenário da República
 O centenário da República é uma data a celebrar. Não tanto pelo simbolismo que estes cem anos representam, mas sim por cem anos de história, de personalidades que insurgiram e que deram o seu contributo para um avanço técnico e científico de Portugal. O regime hoje em vigor, foi uma conquista de Homens com sonhos e ideais que há cem anos se impuseram à monarquia e implantaram a República.
 O centenário da República é uma data a celebrar. Não tanto pelo simbolismo que estes cem anos representam, mas sim por cem anos de história, de personalidades que insurgiram e que deram o seu contributo para um avanço técnico e científico de Portugal. O regime hoje em vigor, foi uma conquista de Homens com sonhos e ideais que há cem anos se impuseram à monarquia e implantaram a República.Em 1890, Portugal vivia uma crise generalizada, grande parte da população portuguesa activa era analfabeta e os trabalhadores qualificados eram uma minoria, o que se espelhava nas produções de baixa escala e em pequenos índices de produtividade por trabalhador. Em comparação a outros países europeus, Portugal estava aquém do que por essa Europa se criava e desenvolvia.
A questão do mapa cor-de-rosa, também em 1890, levou o povo a desacreditar o regime monárquico e em 1891, a revolta republicana no Porto comprovou e acentuou o descontentamento e desilusão da população face à monarquia. É neste contexto que as ideias republicanas ganham um maior contorno do que já tinham e conseguem apoiantes de um povo que vê a burguesia a engrandecer-se e uma família real que vive com todos os luxos. Esta agitação culmina a 5 de Outubro de 1910 com a implantação da república.
Com a 1ª República são implementadas reformas na educação e no sector do trabalho. Os republicanos sempre defenderam a importância da instrução para o desenvolvimento de um país em que mais de metade da população vivia da produção agrícola. Em relação ao sector laboral, os republicanos tentaram responder ás reivindicações dos trabalhadores a fim de diminuir as injustiças sociais e melhorar as condições de trabalho.
No entanto, as reformas tomadas não surtiram o efeito esperado…Em 16 anos, Portugal teve 8 Presidentes da República e 45 governos. Tal situação contribuiu para que se gerasse um clima de instabilidade social e de descontentamento na população. Adivinhava-se assim, o fim da Primeira República. A revolta de 28 de Maio de 1926 marcou o início da ditadura militar do Estado Novo. Iniciava-se assim, um novo período da história de Portugal e dos portugueses em que uma vez mais Homens se insurgiram para pôr fim a um regime repressivo e ditatorial a 25 de Abril de 1974.
Louvor do Revolucionário
Quando a opressão aumenta 
Muitos se desencorajam
Mas a coragem dele cresce.
Ele organiza a luta
Pelo tostão do salário, pela água do chá
E pelo poder no Estado.
Pergunta à propriedade:
Donde vens tu?
Pergunta às opiniões:
A quem aproveitais?
Onde quer que todos calem
Ali falará ele
E onde reina a opressão e se fala do Destino
Ele nomeará os nomes.
Onde se senta à mesa
Senta-se a insatisfação à mesa
A comida estraga-se
E reconhece-se que o quarto é acanhado.
Pra onde quer que o expulsem, para lá
Vai a revolta, e donde é escorraçado
Fica ainda lá o desassossego.
Bertold Brecht In 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
Muitos se desencorajam
Mas a coragem dele cresce.
Ele organiza a luta
Pelo tostão do salário, pela água do chá
E pelo poder no Estado.
Pergunta à propriedade:
Donde vens tu?
Pergunta às opiniões:
A quem aproveitais?
Onde quer que todos calem
Ali falará ele
E onde reina a opressão e se fala do Destino
Ele nomeará os nomes.
Onde se senta à mesa
Senta-se a insatisfação à mesa
A comida estraga-se
E reconhece-se que o quarto é acanhado.
Pra onde quer que o expulsem, para lá
Vai a revolta, e donde é escorraçado
Fica ainda lá o desassossego.
Bertold Brecht In 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
sábado, 2 de outubro de 2010
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