É recorrente ouvir críticas inflamadas à nossa sociedade individualista, consumista, egoísta, entre outras coisas.
É importante entender o que é o individualismo e perceber o seu papel como ideologia e de que forma está ligado à forma como concebemos os problemas sociais.
O individualismo é um dos pressupostos do liberalismo, uma teoria com cariz emancipatório que pretendia libertar o génio humano e a vontade do indivíduo das amarras colectivas que o restringiam. Esteve por detrás, por exemplo, da Revolução Francesa, do Iluminismo, da ascensão da democracia, da declaração dos Direitos do Homem.
Mas como qualquer ideologia, por melhor intenção que tenha, pode divagar. E o individualismo tende para o egoísmo por uma série de processos sociais, ainda que liberais convictos, como Hayek, recusem a comparação entre individualismo e egoísmo.
Ao pôr ênfase no valor do individuo e esquecendo a sociedade (Margaret Thatcher, uma iminente líder política neoliberal, primeira-ministra de Inglaterra no início dos anos 80, considerava que a sociedade não existia como entidade real, mas apenas o indivíduo, e no máximo, a família.), com todos os seus condicionalismos, põe também a explicação dos factos nos actos dos individuos em si. Cada um é responsável por si próprio e cada um procurando o seu próprio interesse deverá levar todos ao bem comum (princípio básico do liberalismo económico iniciado com Adam Smith).
Esquecendo os condicionalismos sociais, esquecem que a sociedade é feita de influências, ou seja, relações de poder que minam uma verdadeira concorrência e que impedem que a redistribuição de gratificações sociais seja injusta - a meritocracia não passa de uma miragem.
São mecanismos sociais que impedem que os melhores estejam no topo, mas sim, os que melhor se adaptam ao sistema implantado - a "cunha" ou o "tacho" são o exemplo típico, mas diferentes meios de progressão na educação, por exemplo, é um poderoso meio de impedir a mobilidade social, existindo então uma míriade de mecanismos de reprodução social que tendem a manter sempre os mesmos no topo e na base. Aliás, grande parte dos estudos feitos confirma isso mesmo, a ascensão social é, quase sempre de curto alcance e a ascensão de longo alcance é residual.
Assim, a nossa conclusão é que o individualismo é irreal já que, não existem sistemas isolados na sociedade - a palavra de ordem é interdepêndencia.
A consicência dos condicionalismos sociais leva-nos a entender que ninguém é completamente responsável por si próprio nem por aquilo que o rodeia. Somos antes condicionados pela familia e os valores incutidos por esta, pela comunidade, pela educação, pelas experiências de vida.
A percepção da sociedade de que ela própria cria desequilibrios entre os seus membros deve criar também em si a necessidade de colmatar as falhas através de um contrato social - os individuos unirem-se para promoverem a segurança de todos dentro da própria sociedade.
Assim, as respostas para a pobreza, devem ser sociais, incidir na capacidade que a sociedade tem para corrigir os seus próprios desequilibrios. E isto não através de um governo distante, mas de braço dado com o aprofundamento da democracia, com um reforço da representatividade e da participação da sociedade civil.
Políticas públicas de emprego, de inserção ou de formação são, neste âmbito, políticas a seguir...
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