terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A FANTASIA DOS PROGRAMAS DE ENTRETENIMENTO

Se, como se diz, as crianças de hoje são cruéis umas com as outras, se são privadas de compaixão, se troçam dos frágeis e desprezam quem pede ajuda, será que isso se deve ao facto de que vêem televisão? É verdade que os pobres e os infelizes invulgarmente ocupam o pequeno ecrã e, quando aparecem, são vulgarmente ridicularizados... Em televisão é a riqueza que é a chave da felicidade...
O mais ilógico é que quase nunca são mostradas pessoas a trabalhar nem o modo como adquiriram os bens que mostram. Não se cria nenhuma relação entre riqueza e trabalho. As crianças, que optam pelos caminhos mais fáceis, desejam a felicidade tal como é apresentada na televisão, ou seja, possuir bens materiais, mas não sabem o que precisam de fazer para os conseguirem. E como poderiam sabê-lo? Para a televisão, mostrar pessoas a trabalhar é uma maldição, é tempo desperdiçado! O programa tornar-se-ia aborrecido, o que é intolerável. E, em televisão, todos os momentos devem ser excitantes, todos os acontecimentos devem conseguir a atenção do espectador. É por isso que não é possível mostrar a relação que une o trabalho à riqueza .

Excerto adaptado do livro "Televisão: um perigo para a democracia" de Karl Popper

1 comentário:

  1. Eu acrescentava - também não mostra os outros mecanismos associados à riqueza...o trabalho é apenas um...

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