O divórcio entre os jovens e a política não é de agora, mas tem-se acentuado cada vez mais nos últimos anos. E isso nota-se, em especial pelo nível de absentismo de novos eleitores, quer nas eleições europeias, quer nas legislativas. Muitos não sabem distinguir os partidos, apenas sabem que "existe um que é rosa e outro que é laranja". E quando lhes perguntam: "És de esquerda ou de direita?" nem sabem o que responder. O mundo político passa-lhes ao lado.
Será que a política é um assunto "chato", a que não vale a pena dar importância? Ou, pelas políticas que se têm imposto, mais vale ignorá-la de vez?
Uma coisa é certa: se os jovens não começarem a consciencializar-se da importância da política partidária, o número de mesas de voto irá diminuir.Para atrair a juventude, os partidos fazem de tudo: colaboram mais com as "jotas", criam redes sociais na Internet e incluem militantes mais jovens nas suas listas. São métodos que os próprios partidos querem acreditar que resultam.
Duarte Cordeiro, líder da Juventude Socialista e deputado na Assembleia da República, acredita que os jovens confiam e participam na política. Porém, refere que essa confiança "depende da capacidade dos partidos se adaptarem aos temas que mobilizam as novas gerações, à sua forma de comunicar e participar".
Por isso, o líder da JS diz que o partido tem procurado "reflectir o que motiva um jovem com um pensamento socialista nos dias de hoje", e se antes era o adolescente que ia ao encontro do partido, agora o processo é inverso, com o reforço da presença na internet. "Nas eleições legislativas apostámos na realização de filmes políticos, e conseguimos que um deles ultrapassasse as 10.000 visitas e o outro filme as 14.000 visitas [Portugal a preto e branco, no YouTube]. Ambos estão entre os 10 filmes políticos mais vistos na Internet, produzidos por partidos políticos", conta.
Outro dos motivos que tem levado ao afastamento dos jovens da política prende-se com o paradigma dos partidos serem espaços de intervenção para fáceis colocações profissionais ou cargos públicos. Algo que, segundo Pedro Rodrigues, líder da JSD, "já não corresponde à realidade". "É uma ideia que se foi instalando ao longo do tempo, porque as juventudes partidárias, em determinado período, deixaram-se subverter muito por essa ideia", explica.
"O jovem olha para a política não em função de bandeiras partidárias, mas através de causas em que acredita", defende. E por isso a JSD desafiou os cibernautas a proporem temáticas para o seu programa, independentemente da sua simpatia partidária. "Foi um sucesso", garante o dirigente.
"Pela primeira vez em Portugal construiu-se um programa político aberto aos jovens, e esta é a abertura que todos os partidos deveriam ter", argumentou.
Um dos partidos com mais militantes jovens é também o "mais jovem". O Bloco de Esquerda pode orgulhar-se por um terço dos seus filiados ter menos de 30 anos. O número que resulta de não haver uma juventude partidária dentro da organização. "Nós achamos que os jovens devem participar com os mais velhos de igual para igual na construção do mundo", afirma o deputado José Soeiro. "Essa ideia em que há temas que os partidos não gostam e chutam para as "jotas", é muito paternalista", diz. "As causas dos jovens são as causas do Bloco todo", acrescenta o deputado. Todavia, José Soeiro dá conta de que existem movimentos que estão a renascer no país, como ecologistas, anti-racistas e de igualdade entre homens e mulheres, protagonizados por jovens "e que demonstram a disponibilidade para a uma intervenção para um bem colectivo, de que a política faz parte".
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