segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O casamento homossexual

Espanta-me a quantidade de espíritos iluminados que pairam por aí e que parecem saber tudo acerca da natureza humana.

Obviamente, num tema destes, mostra-se mais uma vez a diferença entre o pensamento político de esquerda e o de direita. Para uns, trata-se de entender os homossexuais como "não-naturais", ou seja, indesejáveis em relação à ordem das coisas. Um exemplo claro da hipótese tida por alguns de que é possível definir as pessoas como melhores umas que outras, pela sua própria natureza.

Mas como alguns pensadores de direita bem lembraram (por exemplo, Hayek), é impossível fazer estas comparações. Não existe, por parte do ser humano, capacidade para definir quem é melhor ou pior. Daí que entrem outras entidades sobre-humanas ao barulho. Daí que a direita continue a chamar Deus ao seu discurso, para suprimir a sua incapacidade de diferenciar os seres humanos como piores e melhores, entra um Deus, única entidade omnisciente por definição, capaz de fazer essas distinções. Por outro lado, existem outras duas entidades capazes de fazer essa distinção: o mercado e a tradição. O mercado que pelos simples jogos de oferta e procura trata de "punir" os ineficientes e "compensar" os melhores. Daí também a ligação fácil entre o mercado e as leis de Deus, "o grande relojoeiro".

O problema do casamento homossexual, para quem o contesta, não é a perversão da sociedade ou a sua consequente destruição pela crise de valores e essa conversa toda com que nos vão enchendo a cabeça. O problema é ir contra uma ordenação de "melhores" para "piores" contrária àquela que concebem com base na tradição, considerada por estes como devendo ser a base de qualquer lei.

Assim, a homofobia é da mesma natureza da islamofobia ou qualquer outra fobia por pessoas que fazem parte de um outro "grupo", social ou não. No caso dos Minaretes da Suiça, por exemplo, considerou-se, com base na tradição, que uma religião era superior à outra. Em tempos cada batalha ganha nas cruzadas era também o mercado a funcionar e a premiar os mais fortes.

Por último, e como sei que a minha análise é bastante simplista, digo que esta concepção de distinção dos seres humanos entre melhores e piores não existe por uma mania das pessoas de direita de se acharem melhores. A questão não está aí. É apenas um resultado lógico de outras premissas que a direita adopta. Crer no livre arbitrio e na independência do indivíduo em relação às condições sociais tem como única conclusão que uma pior situação do indivíduo acontece por culpa própria, tornando-o também pior por natureza.

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