Está disseminada uma forma de pensar os jovens como a geração perdida.
Falo nisto após ler um texto do meu amigo João, baseado num artigo de César das Neves no DN.
«“As novas gerações queixam-se do sistema sem futuro que os pais criaram na revolução e que os condena ao emprego precário. Multiplicam-se as queixas, escândalos, intrigas, fúrias, desconfianças. Apela-se a um Salazar que venha pôr isto na ordem. Portugal está desanimado.”
Sempre conheceram uma vida feita de facilidades, portanto, ao mínimo problema sentem grandes dificuldades!»
Guardo acima de tudo esta citação que esquece uma série de coisas e que tem ligadas uma série de outras coisas.
1º- pela primeira vez na história é consensual que uma geração viverá pior que a precedente.
2º- a geração que nos precede vivia melhor que a anterior e também se queixava, isto é válido para o João como para o Dr César das Neves.
3º- o facto de algo ter sido sempre difícil não significa em lado nenhum que tenha de continuar díficil.
4º- esta opinião veiculada por César das Neves e pelo João Simões é apenas reflexo de uma atitude adaptativa do género: está mal?já esteve pior...
5º- mas a atitude não fica por aí. Ambos propõem saídas. Quais? Que cada um seja forte e capaz de ultrapassar as dificuldades. Mentira?Não...
6º- mas esconde a maior realidade de todas. As pessoas não estão mal, a pobreza, a violência, o que quer que seja, não é por culpa individual de cada um, tudo isto é antes causado por um contexto social desequilibrado, pela falta de laços sociais, pela emergência do individualismo e consequente egoísmo.
7º- É uma solução centrada no individuo que ambos advogam. Toda a atitude é assim criadora de mais dificuldades...
8º- o individualismo é fácil de entender nesta frase: «É através da acção diária de 10 milhões de pessoas, cada uma a tentar melhorar a vida, que o País avança.”»
9º- não amigos, o país avança quando forem criadas condições para a existência de uma verdadeira sociedade civil participativa, que pela sua acção tenha o Estado como real representante e que crie verdadeiros sistemas públicos igualitários e equitativos de justiça social.
10º- Só a seguir estarão conseguidas condições para o ânimo, a segurança de cada um, só aí a sociedade poderá crescer como um todo e não deixando a grande massa da população para trás.
É isto que está em questão.
Amigos da minha geração, não deixem que vos calem porque supostamente já houve alguém que sofreu mais. A nossa resposta é - nem um bocadinho mais de sofrimento. A era do sofrimento chegou ao fim e nós havemos de mostrá-lo a esta geração anterior que tem medo que o bolo do sofrimento não chegue para nós...
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