"Mas, mesmo quando parece haver alheamento ou desinteresse ostentivo da família em relação à escolaridade dos filhos, o que é que lhe estará na base?
Por um lado, os padrões culturais dessas famílias - os valores e as orientações, as crenças e as disposições, os saberes e as linguagens que constituem a matriz cultural das suas práticas sociais, e na qual as respectivas crianças são socializadas desde que nascem - não estão em geral ajustados aos saberes escolares e às regras de funcionamento da escola, como tendem a estar os padrões culturais das famílias de classes médias e altas. O que gera grande desconhecimento em relação à escola, problemas múltiplos de acesso e de relacionamento, incompreensões sistemáticas, permanentes dificuldades de comunicação.
No entanto, só por caricatura se pode admitir que, nos dias de hoje, as classes populares tenham uma ignorância global e completa a respeito da escola. As famílias de meios populares cujos filhos têm insucesso escolar já passaram elas próprias pela escola, em boa parte dos casos. Seja como for, têm certamente no seu universo de referencias próximas exemplos de situações sociais e de trajectos de vida a que se reportam para fazerem as suas próprias avaliações acerca do que podem valer, para o futuro dos filhos, os conhecimentos aprendidos na escola e os diplomas nela obtidos. Nestas condições, fazem cálculos mais explícitos ou mais implícitos, quanto à utilidade relativa da aposta na escolarização, face a outras possibilidades. A relação com a escola dependerá então, também, dos seus projectos a prazo, mais clara ou mais vagamente formulados, num quadro de condições de existência precárias, que podem levar a optar pela colocação de esforços e recursos (escassos) noutras vias que pareçam mais promissoras do que uma longa escolaridade bem sucedida, sentida coo problemática e improvável.
A questão fica assim recolocada. Não haverá também aqui um problema de interacção entre a escola e os meios populares?"
Por um lado, os padrões culturais dessas famílias - os valores e as orientações, as crenças e as disposições, os saberes e as linguagens que constituem a matriz cultural das suas práticas sociais, e na qual as respectivas crianças são socializadas desde que nascem - não estão em geral ajustados aos saberes escolares e às regras de funcionamento da escola, como tendem a estar os padrões culturais das famílias de classes médias e altas. O que gera grande desconhecimento em relação à escola, problemas múltiplos de acesso e de relacionamento, incompreensões sistemáticas, permanentes dificuldades de comunicação.
No entanto, só por caricatura se pode admitir que, nos dias de hoje, as classes populares tenham uma ignorância global e completa a respeito da escola. As famílias de meios populares cujos filhos têm insucesso escolar já passaram elas próprias pela escola, em boa parte dos casos. Seja como for, têm certamente no seu universo de referencias próximas exemplos de situações sociais e de trajectos de vida a que se reportam para fazerem as suas próprias avaliações acerca do que podem valer, para o futuro dos filhos, os conhecimentos aprendidos na escola e os diplomas nela obtidos. Nestas condições, fazem cálculos mais explícitos ou mais implícitos, quanto à utilidade relativa da aposta na escolarização, face a outras possibilidades. A relação com a escola dependerá então, também, dos seus projectos a prazo, mais clara ou mais vagamente formulados, num quadro de condições de existência precárias, que podem levar a optar pela colocação de esforços e recursos (escassos) noutras vias que pareçam mais promissoras do que uma longa escolaridade bem sucedida, sentida coo problemática e improvável.
A questão fica assim recolocada. Não haverá também aqui um problema de interacção entre a escola e os meios populares?"
Sociologia - António Firmino da Costa
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