terça-feira, 25 de maio de 2010

O que fazer com as salas de aula? Solução: construir bares

Continuação da entrevista de Luís Ricardo Duarte a António Câmara para a revista AULA MAGNA.

A Internet e as novas tecnologias podem mudar a nossa relação com as aulas?
Muito. Num estudo de 1988, promovido pela U-Virginia Tech, Charles W. Steger, o actual presidente da instituição, defendia que as aulas deviam ser excepcionais. E que se devia acabar com o modelo que desde a Idade Média temos vindo a seguir. Mas isso tinha uma consequência: como acabavam as aulas tradicionais, sobravam salas. E o que fazer com elas (porque apesar de tudo era importante que os alunos convivessem com os professores)? Solução: construir bares.



Ter bares em vez de salas aulas?

Exactamente, e com o bom tempo que há em Portugal podemos substituí-las por esplanadas. Aí poderíamos tirar dúvidas e discutir, ter acesso à Internet, sítios para projectar vídeo ou outros suportes. Nesse sentido, a arquitectura pode ter um papel fundamental.

A chave desse espírito universitário é a autonomia?
Só num sistema de marcação de falta é que o estudante não tem autonomia. O importante é criar ambientes universitários terrivelmente excitantes, onde uma pessoa goste de lá estar e no qual sinta que está a crescer. Ou seja, o contrário da experiência óleo de fígado de bacalhau, em que se pensa: tenho de estar aqui porque depois quero um emprego.

É por isso que fala em exploradores por oposição a empregados?
Os alunos têm de se aventurar. Não ficar à espera. Mas não digo exploradores só no sentido de empreendedores. Também podem ser líderes cívicos, artistas, cientistas. Mas têm de ser originais. Provavelmente, nem todos vão conseguir sê-lo. No entanto, uns podem arrastar os outros. Muitos dos ex-alunos do MIT que fundaram empresas contrataram os antigos colegas.

Essa lição, que tem aplicado na Ydreams, já tem consequências na organização dos currículos universitários?
Ainda não transpusemos para a universidade o conhecimento adquirido na nossa empresa. Damos algumas cadeiras, mas pouco mais. Porém, a nossa ideia é essa transposição ter duas dimensões. A primeira, é o currículo escondido. Todas as cadeiras têm de ser permeáveis a um conjunto de conceitos chave. As pessoas têm de saber comunicar, identificar o que é propriedade intelectual ou o valor do que fazem para a economia em geral. A segunda, é a criação de cadeiras específicas, em particular em quatro áreas centrais: a tal propriedade intelectual; o marketing e as relações públicas, de forma a perceber o mundo de hoje dominado pela web e suas regras; os modelos de negócio, para se saber como se ganha dinheiro de uma forma completamente diferente; e, por último, o espírito do «fazer». Como propunha Neil Gershenfeld, do MIT, num dos seus famosos cursos, é preciso ensinar os estudantes a saber fazer quase tudo.

FIM

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