segunda-feira, 17 de maio de 2010

Histórias da carochinha...(1)

Não são só os Morangos com Açúcar que influenciam o nosso imaginário e nos educam de uma certa forma, conforme os caprichos dos seus criadores.

Há uma classe de historietas acerca da moral cristã que me interessa aqui analisar através de dois exemplos e que, pela comparação, nos dão imagens bonitas, elaboradamente criadas de forma a transmitir uma ideia do ideal cristão que, tantas vezes não corresponde à realidade das práticas.

Quem inventa diz o que lhe apetece. A diferença entre um artigo que procura fazer pensar sobre o assunto e uma destas historietas é que estas, manifestamente, acentuam ideias pré-fabricadas sem deixarem espaço para o questionamento das mesmas. Quando através dessas histórias se faz uma comparação entre religiões ou pontos de vista, o resultado é tragicamente triste e desolador.

Após o primeiro exemplo, penso que vão perceber...

Trata-se de uma pequena história da qual não conheço o autor e que passo a citar:

«Certo homem caiu num poço e não conseguiu sair de lá de dentro.
Uma pessoa subjectiva veio e disse:
- Sinto muito que estejas aí no fundo do "poço".
Uma pessoa objectiva olhando-o disse:
- Estava mesmo a ver que alguém is cair nesse "poço".
Um fariseu exclamou:
- Só as pessoas más é que caem em "poços".
Confúcio disse:
- Se me tivesses escutado, não estarias agora nesse "poço".
Buda disse:
- O teu "poço" é apenas um estado de espírito!
Mas o realista retorquiu:
- Isto é de facto um "poço".
Um cientista pôs-se a calcular a pressão necessária para tirar o homem de dentro do "poço".
Um geólogo, espreitando para dentro, sugeriu:
- Aí dentro, bem podes apreciar as rochas do "poço".
Um fiscal perguntou-lhe se pagava impostos sobre o poço.
Um inspector da Câmara perguntou-lhe se tinha licença para abrir "poços".
Um indiferente passou, ignorando completamento o assunto.
Um gabarola exclamou:
- Isso não é nada, havias de ver o meu "poço".
O psicólogo aconselhou:
- Tudo o que tens a fazer, é convencer-te de que não estás num "poço".
O optimista advertiu:
- Podia ser pior.
O pessimista retorquiu:
- Cheira-me que as coisas vão piorar.
Por fim, chegou Jesus. Vendo o homem, pegou-lhe pela mão e puxou-o para fora do "poço"!»

O quê?

Vamos lá reformular isto para ficar mais realista: antes de Jesus passou o Papa que disse "O amor a Jesus nosso senhor te salvará do teu poço..."

Com uma pequena história sem qualquer objectividade ou realismo, passa-se uma mensagem: os outros só falam, Jesus faz algo por ti. Neste sentido é interessante o facto de Jesus não estar entre nós fisicamente para o puxar pela mão. Esperava-se dos cristãos que fizessem esse trabalho, pelo que pode vir também um cristão depois do Papa e dizer: "olha, se não fores homossexual nem tiveres praticado o aborto, o amor de Deus tira-te do poço..."

Porque raio o psicólogo não disse antes: "acredita em ti que conseguirás sair do poço sozinho...".

Se fosse um texto feito por um muçulmano não era possível ele pôr que Jesus tinha dito "Bem aventurados os que estão dentro de poços porque deles é o reino das profundezas"?

(Vale a pena ler este artigo do Substância Inerte, tem muito a ver com isto...)

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