Primeiro, é economista e provavelmente, dos economistas com mais espaço de opinião na comunicação social. Segundo, porque se interessa muito por religião. Ora, eu sou estudante de economia e também me interesso muito por religião. No entanto, deve ser difícil duas pessoas com interesses idênticos terem tantas divergências de opinião como as que eu tenho com JCN. Ele é conservador na economia e conservador na religião, eu sou progressista em ambas o que implica que, se um tiver certo nalguma coisa, o outro está errado em tudo...
Bem, não era disto que queria falar, venha a história da carocinha.
Nestas histórias cada um diz o que quer como já expliquei no texto anterior. Agora temos uma história de Natal:
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Adormeci e no meu sonho vi- -me num grande campo com uma multidão incontável. Um enorme cartaz mesmo em frente dizia "Parada das religiões". De facto, tudo parecia orientado para um cortejo imenso que percorria uma estrada no meio do campo. Toda aquela gente, que compreendi ser a humanidade inteira, se amontoava dos dois lados do caminho, vendo avançar os carros referentes a cada crença.
Quando consegui chegar à primeira linha passava uma enorme plataforma sobre rodas levando uma gigantesca estátua de Buda. À volta do carro viam-se monges vestidos de açafrão que entoavam cânticos. A seguir, carros mais pequenos levavam símbolos budistas. Muitos espectadores saudavam a passagem inclinando o corpo, cantando e queimando incenso.
Os carros seguintes tinham símbolos estranhos que não consegui identificar. A aparência dos acompanhantes também não esclarecia, pois iam de fato e gravata. Só quando reparei nos aventais percebi que era a Maçonaria. Notei então o esquadro e compasso. Apesar das semelhanças indesmentíveis, a dimensão era inferior à apresentação do budismo mas ainda bastante imponente.
A religião que se seguia era conhecida, pois o cortejo parecia as paradas na Praça Vermelha ou Tiananmen: era o marxismo que passava. Os carros traziam foices e martelos, além de operários, soldados e mísseis. Na audiência, viam-se punhos fechados e ouviram-se palavras de ordem.
Foi então que decidi perguntar aos meus vizinhos quando passaria a minha religião, o cristianismo. Eles desataram a rir. Surpreendido dirigi-me a um velho de barbas brancas que tinha a farda da organização. Ele informou-me que, como o cristianismo era a maior das religiões, tinha a honra de ir à frente, abrindo a parada. Disse-me também que, se eu quisesse, havia ali perto um autocarro especial para levar os interessados a outras zonas do cortejo.
Segui-o e poucos minutos depois estávamos mais adiante no campo, num local onde a multidão ainda esperava. Percebi pelo ruído que algo se aproximava. Quando consegui vislumbrar os contornos do primeiro carro foi com espanto que constatei o que parecia ser um minarete. Não faltou muito para o confirmar que o que se aproximava era a delegação do Islão. Os carros eram ainda maiores e mais imponentes que os que vira antes. O primeiro trazia um enorme livro aberto cheio de caracteres árabes. O segundo era uma mesquita e em volta múltiplos fiéis desfilavam, rezavam e saudavam. O número era incontável.
Olhei com espanto para o velho, mas ele continuou impávido. Só nessa altura reparei que, afinal, esse carro não era o início do cortejo. Mesmo em frente ia algo tão pequeno que passava despercebido: um homem levando um burro com uma mulher em cima e um bebé ao colo. Aquela era a humilde presença do cristianismo.
Apesar de minúscula, essa presença era controversa. Alguém dizia: "E isto não é o pior. Na parada da tarde vem um homem com uma cruz às costas, chicoteado por soldados." À minha volta muitos protestavam contra isso. Que acontecera a toda a riqueza milenar do culto litúrgico, arte sacra, doutrina teológica, caridade cristã? Como os vi a protestar, perguntei se eram protestantes. Alguns disseram que sim, mas a maior parte eram católicos.
Afastei-me confuso. Então o velho explicou-me: "O cristianismo é mesmo só is-to: Cristo que passa. A tua fé é a única que não tem no seu centro livros, cultos, éti- ca, mas uma pessoa, Jesus Cristo. Por isso ser cristão não é, antes de mais, aprender dogmas, rezas, ofertas ou mandamentos, mas viver uma relação pessoal de amizade, contínua e permanente com Alguém. Tudo o resto, e é muito e importante, são apenas ajudas para o essencial. Ele mesmo o disse: ser cristão é nascer de novo (Jo 3, 3). É ser corpo de Cristo (1 Co 12, 27). O cristão vive a vida toda com Cristo e em Cristo, no meio do povo que é a Igre- ja. Muitos cristãos tratam a sua fé como uma religião e vêem o cristianismo como regras, orações, obrigações. Mas a verdade da fé não é fidelidade. É intimidade. Viver sempre na presença de Cristo próximo."»
Obviamente que quem viu a visita Papal da passada semana só pode achar esta história uma anedota...Olha os católicos a não darem nas vistas ãh? Uma manjedoura, uma família simples...
Alguém acredita que a IC, num evento destes, não fizesse uma manjedoura em ouro? Que os bispos fossem atrás com paramentos bordados a ouro e com báculos de prata?
"A tua fé é a única que não tem no centro livros, culto, mas uma pessoa, Jesus Cristo." Claro que sim, mas é Jesus Cristo num crucifixo em ouro e prata, não há cá brincadeiras...Quanto a todas a encíclicas e textos e ordens e directivas da IC para o mundo, não contam...
Quando lanço estas questões quero apenas lembrar uma coisa. A teoria e a prática tem uma grande distância entre si.
Estes textos são idealizações de algo que devia ser a realidade da IC. Caem no erro de o fazer por comparação com outras religiões de forma simplista e sem qualquer rigor.
Neste texto concordo com a visão da IC (ainda concordo algumas vezes com JCN) mas não concordo com a comparação implicita com outras religiões. Depois também sou obrigado a perguntar-me qual a opinião de JCN acerca da manifestação religiosa desta visita papal...
Sou obrigado a dizer que ser cristão como proclama JCN é virar costas à IC...
Há que questionar muita coisa...
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