Basicamente, Portugal é um país muito bem comportado. Na investigação, seguimos os líderes mundiais. Na educação, temos um pensamento convencional. Duas perspectivas que não atraem ninguém. Normalmente, as pessoas gostam de locais que se colocam nas zonas limites e pouco exploradas.
Isso quer dizer «ser pioneiro»?
Exactamente. O que significa risco, que é a palavra mais difícil de todas. A maior parte das pessoas não quer assumir riscos, porque levam ao falhanço. Mas não podemos ter medo do falhanço porque é ele que nos leva à diferença. O risco é tudo. Quando estive no MIT foi isso que senti: havia uma licença para o risco. E bem diz o ditado: quem não arrisca não petisca.
Compara muitas vezes um professor a um treinador. Porquê?
Porque todos os estudantes são diferentes. Ter essa consciência é um cuidado que qualquer pessoa deve ter. Sobretudo com os que ficam para trás ou nas margens. Esses requerem um trabalho individual, como num equipa de desporto. Depois, há os excepcionais, aos quais temos de colocar desafios. Daí que um professor tenha de conhecer todos os estudantes que tem na sala de aula, como pensam, quais as suas capacidades e, com esse conhecimento, tirar o melhor deles. Porém, não se consegue atingir essa meta com um sistema baseado em exames. É um tipo de ensino impessoal, em que apenas se vai às aulas, nunca se conhece os professores e depois tem-se um exame que nos filtra. Quando se passa, é-se bom, caso contrário, é-se mau. É uma visão patética. O que mais me entristece na sociedade portuguesa é só se associar o rigor no ensino aos exames. Só há uma palavra para definir isso: imbecilidade. São pessoas que não percebem nada de educação.
Nos seus textos autobiográficos fala com prazer do seu absentismo, do tempo dedicado a ler, a ir ao cinema e a conviver.
Foi o melhor que me aconteceu. Se tivesse ido durante cinco anos às aulas do ISTécnico da U-Técnica de Lisboa acho que teria tido uma vida miserável, naquela altura e depois. Hoje em dia orgulho-me todos os dias da decisão de ter estudado de uma forma diferente. Porque mesmo sem ir às aulas, eu estudava e trabalhava ao mesmo tempo, só que aquele tipo de ensino não era nada entusiasmante. Um teórico americano afirmava que a realidade não enganava. Se olharmos para as nossas universidades, constatamos que os estudantes não vão às aulas. Algum motivo devem ter. Não é por serem mandriões. Eu próprio não era mandrião. O problema, pareceme, está muito mais na oferta do que na procura.
CONTINUA...
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